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O Aviãozinho da FAB

Foi em Brasília, na festa de 60 anos da Esquadrilha da Fumaça. Festejando, caças da Força Aérea fizeram rasantes pela cidade, e um supersônico que quase ultrapassou a barreira do som causou um estrago na fachada do Supremo Tribunal Federal. A imagem gravada por celular e transmitida pelas televisões consegue registrar o momento exato em que o avião passa e os vidros vêm abaixo, com estilhaço para todo o lado.

A Força Aérea, depois, informou que o deslocamento da massa de ar na passagem do avião provocou o estrago, e que vai pagar – ou já pagou – o prejuízo causado no prédio da nossa Excelsa Corte, como se o dinheiro da FAB e do Judiciário não tivessem a mesma origem.

E fiquei absorto em pensamentos indagando se o comportamento do piloto foi assim, digamos, sem querer, ou quem sabe algo intencional, um alerta vindo do alto para que, nesses tempos cinzentos, os ministros tenham – com o perdão do trocadilho – mais juízo.

Motivos não faltam para o piloto dar um susto. As excelências – convenhamos – não têm elevado a veste talar. Basta lembrar a discussão dos ministros Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa, mutuamente acusando-se de não respeitarem a Corte que representam. É um diálogo lamentável. A discussão está na internet. Para quem não se horroriza, vale a pena ver e ouvir, mas as cenas – aviso desde já – não são recomendáveis para estudantes de direito menores de 21 anos.

E o episódio do mesmo Gilmar Mendes, recentemente, com o Lula, que horror! E o que dizer do julgamento do assassino Cesare Battisti, que hoje anda risonho e solto – zombando de nós – a voar pelo país distribuindo autógrafos, sendo recebido como celebridade em ágapes por conta e convite de desvairados? E o maior dos desconcertos do Tribunal: até hoje não julgou o mensalão; e, ao que dizem, quando isso ocorrer, todos os envolvidos serão declarados inocentes.

Isso aos poucos vai corroendo a instituição junto ao homem de bem que, de mãos atadas, e na sua idiossincrasia, por enquanto se curva e tolera o abuso e a farsa. Até quando?

Na verdade, o rasante do caça da FAB sobre o prédio do Supremo Tribunal Federal – ninguém me convence do contrário – não foi manobra de um piloto distraído. Foi coisa pensada, num recado explícito de que o desarrumo do país está batendo no seu limite.

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