O cérebro humano II
PROFETAS
A curiosidade, uma das características primaciais da humanidade estimulou o surgir e o florescimento de pessoas às quais se atribuía o poder de prever o futuro. Profetas no Antigo Testamento, o Oráculo de Delfos na Grécia, Nostradamus nos primórdios do século XVI e as onipresentes profetizas de Ano Novo, de uma maneira ou de outra, formam uma plêiade que arregimenta seguidores e crentes de todos os matizes, com defensores arraigados e detratores irredutíveis.
Menos controversos são aqueles que de uma maneira difícil de explicar, na realidade preveem ocorrências e as documentam por escrito utilizando, inclusive, técnicas e equipamentos sequer inventados na época. Júlio Verne enviou uma nave à Lua antes de serem descobertos os foguetes propulsores e o submarino Nautilus era movido a energia nuclear quando sequer se cogitava na fissão do átomo. Carl Sagan, Isaac Asimov – entre outros – eram um misto de escritores e cientistas, o que conferia credibilidade a seus escritos.
Outro setor, o romance, incrivelmente se aventurou, com sucesso, em profecias de pronto realizadas. Morris West, em 1963, publicou “As sandálias do pescador”, prevendo a eleição dum papa da Europa Oriental e “A Eminência”, em 1999, sobre um papa argentino. Transcrevo a orelha da 2ª reimpressão do livro editado pela Record. É uma obra apenas encontrada em sebos, via internet.
Em 1963, quando publicou seu primeiro livro sobre o Vaticano, “As sandálias do pescador”, Morris West foi profético. O romance sobre a eleição de um papa da Europa Oriental antecipou em quase duas décadas a eleição do polonês Carlos Wojtila para o trono de Pedro, com o nome de João Paulo II.
Mais de três décadas depois, quando o longo pontificado parecia estar chegando ao fim, West retorna ao tema em um romance brilhante que reflete as políticas e o rumo da Igreja Católica. O principal personagem de “A Eminência” é o cardeal argentino Luca Rossini, que depois de ser barbaramente torturado pelos militares durante a ditadura em seu país, faz carreira no Vaticano apoiado pelo próprio pontífice. Assumidamente um homem cheio de falhas e dúvidas, ele transforma-se em peça central do processo sucessório papal, no qual é um dos principais candidatos.
Embora seja possível que este romance torne-se também uma profecia, há em “A Eminência” muito mais que a política de bastidores da Santa Sé. Desta vez Morris West supera-se explorando a natureza da fé, do amor e do compromisso nos corredores do poder e nos corações dos homens em tempo de crise e mudança.
Com a eleição do cardeal Bergoglio em março de 2013, mais que um argentino, o mundo começou a conviver com o primeiro jesuíta papa na história da Igreja. E mais, ele se fez Francisco, na palavra e na ação concreta. Da profecia dum romancista à realidade de evidentes mudanças tão necessárias e louváveis, mas que requerem coragem, força e fé! E uma constante: “eu sou um pecador, rezem por mim”.