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O circo do Tiririca

Com uma vantagem de 241 votos, o governo esmagou a oposição em seu primeiro grande teste na Câmara dos Deputados, que aprovou um salário mínimo de 545 reais. No Senado, certamente, também não haverá dificuldades, inclusive com o voto – pasme! – do senador Paulo Paim.  Segundo a área econômica, para cada real de aumento no salário mínimo, o governo deve gastar 286 milhões de reais a mais com o pagamento de aposentadorias e benefícios.

Despudoradamente, contudo, esse mesmo governo gasta bilhões doando dinheiro ao Paraguai, FMI, cartões corporativos, à prodigalidade do mensalão, sem falar nos dignos representantes do povo, que negaram 15 reais a mais aos trabalhadores e dependentes da previdência, sponte sua, aumentaram os seus proventos, mandado às favas a opinião pública.

Mas a vitória do governo não ficou apenas nisso. Até 2015, o reajuste do mínimo seguirá uma regra fixa e vai ser definido por decreto presidencial, sendo que o Congresso não será mais consultado.

Acompanhei pela televisão parte da sessão. É burlesco, mas não recomendo às almas mais singelas. Assistir, por exemplo, o deputado Vicentinho, na condição de relator, manter até 2015 uma equação cabalística para recompor o mínimo e, ainda, ficar em cócoras ao sopro do Planalto, causa ânsia estomacal.

E o conteúdo surreal estava presente em cada parlamentar que subia à Tribuna. Pepe Vargas, Padre João e a iluminada Luci Choinoki foram escarnecidos pela galeria, enquanto os deputados Ronaldo Caiado, ACM Neto e Marchezan Júnior, ao contrário – na defesa dos humildes –, eram aclamados. Onde está, Senhor, a coerência?

Com o circo armado só poderia brilhar a figura do palhaço Tiririca. Confuso, trocou os botões da votação. Calma, Tiririca, Vossa Excelência ainda terá tempo para muitas brincadeiras no picadeiro parlamentar e no trapézio eletrônico. Algumas ficarão por conta da sua agilidade mental e da destreza manual; outras, por “maracutaia” mesmo. Mas se console, deputado: o seu nobre colega deputado Romário que, habituado a lidar com os pés, também se viu em apuros para teclar.

Mas que eu possa nos meus devaneios almejar que o governo com a força e apoio que possui, nas duas Casas, leve adiante as reformas que o país tanto necessita. Como se viu no episódio do salário mínimo, basta querer. E se quiser, poderá.

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Mais uma nota triste, neste desalentado país. Morreu, semana passada, Sérgio Jockymann, seguramente um dos grandes cronistas, jornalistas e dramaturgos do Brasil. Talento invulgar, pagou caro pela independência, proscrito que foi pela grande mídia. Eleito deputado, seu nome jamais foi mencionado pelos veículos da Caldas Jr. e RBS. Faleceu em Campinas, longe do seu torrão, mas a sua obra e postura como homem haverão de permanecer perenes.

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