O fim do livro (impresso)

Recebi essa semana a informação, vinda da Alemanha, da editora responsável pelo meu último trabalho, de que o mesmo será editado também em versão e-book, o livro em forma digital. Não é nenhuma novidade, mas, pode sim, ser uma tendência.

A questão não é simples e há quem diga que tudo ainda está indefinido e está ligado ao que o futuro nos reserva enquanto tecnologia e ao custo-benefício para editoras e escritores – estes últimos com muito pouco poder de definir algo, é claro.  O debate, inclusive, foi o tema da última feira do livro de Frankfurt, o maior evento literário do mundo, que no próximo ano prestigia o Brasil.

Afinal, o livro impresso terá fim? Será substituído por outras mídias? O último ano não foi bom no mercado das feiras e livrarias, isso é fato. Cada vez mais o leitor-consumidor compra livros pela internet. E os preços são o principal fator. Muito mais barato do que em feiras ou livrarias, não raro pela metade do valor. Na Alemanha, país de grande tradição literária, muitas tradicionais livrarias tiveram queda nas vendas. As gigantes da internet, como a Amazon, comemoram e expandem sua atuação para países, como o Brasil, por exemplo, onde o número de compradores ainda é pequeno, mas cresceu muito em relação aos últimos anos. Ao que parece, temos então duas novas tendências, digamos assim: a venda do livro pela internet e a produção em mídias digitais.

A venda pela internet está definida, não há volta, será, é, o futuro. A venda em livrarias, e/ou feiras de livro, terão outras funções, como o debate, as palestras, as atividades culturais, o contato do autor com o leitor, em fim, o acerca do livro e não mais a simples comercialização do mesmo. Aliás, isso já ocorre, há muito tempo as feiras, por exemplo, não servem exclusivamente como ponto de venda.

Como ele será produzido é outra questão e está longe de uma definição. O ano de 2012 foi recheado com notícias sobre a falência de grandes e tradicionais jornais impressos na Europa. É muito difícil concorrer com o imediatismo e a rapidez da internet. E observem que nesse caso a maioria dos jornais já disponibiliza assinaturas na forma on-line, direcionada a aplicativos móveis. As revistas seguem o mesmo caminho, a maioria disponibiliza poucos exemplares da versão impressa, algumas já o deixaram de fazer.

Mas e o livro? Há tempos universidades e universitários, em todos os níveis, se utilizam do material on-line. Aqui, temos dissertações, teses, revistas, artigos, tudo acessível ao público em vários formatos. Tudo ao alcance de um simples “touch”. Quer ler os trabalhos do Rodrigo Trespach para a Universidade de Mainz ou para a PUC? Está lá, para qualquer um ler, sem pagar um único centavo por isso. Não acha o Rodrigo importante? Procure outro, não há problemas, todos que produzem pesquisa estão lá, ou em qualquer outra universidade que se preze.

Ah, procuras por literatura? Sem problemas, há várias obras literárias, já publicadas na versão impressa ou inéditas, disponíveis em vários acervos. Muitas das maiores bibliotecas do mundo têm parte de seu acervo também em forma on-line. Quer ler um manuscrito medieval no original? Está disponível. Quer conhecer o acervo fotográfico da família real brasileira? A Biblioteca, ou o Arquivo Nacional disponibilizam. É muito fácil, demais até.

Um dos fatores cruciais na luta impresso x digital são as editoras, são elas que definirão os rumos. Por mais estranho que possa parecer, o escritor é coadjuvante nessa história. Das partes envolvidas ele é o que menos ganha dinheiro com sua obra, por isso muitos tem aderido aos blogs. Alguns se tornam “famosos” como blogueiros, antes mesmo de entrarem no mercado do livro. Poucos vivem exclusivamente da venda dos livros. Curioso, porque não há editoras sem os escritores. É o sistema. E as grandes editoras não abrem espaço aos pequenos, também faz parte do sistema. Elas precisam de vendas e para isso precisam daqueles que possam atrair mídia. Por isso, os pequenos também tem se direcionado ao mercado virtual. Entre os poetas, blogs são muito comuns.

Mas claro, persiste a dúvida, poderá o virtual tirar o prazer inexplicável de folhear uma obra imortal como “Os miseráveis”, de Victor Hugo? Das obras de Tolstói e Goethe? De Josué de Guimarães, Castro Alves ou Ariano Suassuna? Difícil dizer, mas uma coisa é certa, desde que o homem inventou o livro ele nunca mais deixou de fazer parte da existência humana nas mais variadas formas em que foi produzido, seja com o papiro, o couro de cabra ou o papel. Com certeza, não deixará de fazer parte se ele vier a ser, na próxima década ou século, na forma digital.

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