O leitor não é burro

“Nunca subestime a inteligência do leitor!” – sentenciou meu pai, numa cinzenta e silenciosa tarde do outono de 1964, ao ler minha primeira crônica publicada no  n’“A Patrola”, um despretensioso pasquim mensal, idealizado por adolescentes da “JP”, como carinhosamente chamávamos a José do Patrocínio, rua onde morávamos em Porto Alegre.

Daí para diante, minhas incursões de cronista e escrevinhador foram formatadas naquele ensinamento paterno.

“A Patrola” fora a pedra fundamental. A ela seguiu-se o CAJU (Centro de Atuação Juliana), um semanário de “fachada” para expressar nossas ideias contrárias ao então vigente regime de exceção que determinara o fechamento do Grêmio Estudantil do Colégio Estadual Júlio de Castilhos. No final da década de setenta fui colaborador do Suplemento Mulher, um caderno literário editado aos sábados, no jornal Folha da Tarde, da extinta Cia. Jornalística Caldas Jr. Paralelo a isso, criei o Alabastro, em Canoas, um jornal diferenciado, impresso em off set e papel mais encorpado. Por razões de custos, Alabastro nem mesmo pôde soprar a vela do primeiro aniversário. Finalmente, quando aportei em Capão da Canoa, assino – além deste democrático, politizado, mas jamais estático Litoralmania – colunas no Costa do Mar & Serra e A Folha do Litoral.

Em muito dos meus artigos vali-me da transcrição de poetas, pensadores, articulistas – como foi o caso de Cao Hering, em minha publicação anterior –, enfim, de palavras de autores outros que gostaria que de minha lavra fossem.

Quando as utilizei, não deixei de identificá-las através de aspas ou nominando sua autoria. É uma questão, mais do que ética, de respeito não somente aos autores, sobretudo ao leitor.

Em “A língua portuguesa chora e sangra…”, crônica publicada neste Litoralmania, em 25/10/2007, fiz uma crítica ácida sobre o descaso de alguns articulistas para com os fundamentos básicos da nossa gramática, finalizando o texto com o alerta da utilização do plágio ou de cópia sem mencionar o seu autor.

Reeducar a finesse gramatical, para alguns, quer me parecer, já é tardio. Agora, plagiar, alto lá! No entanto, percebi que o plágio ainda persiste, não apenas o plágio em si, mas na cópia integral de textos que estão à disposição, nos blogs!
Se o leitor não contesta, afirmando conhecer a verdadeira origem do escrito, certamente o faz por respeito ao articulista a quem ele, até então, costumava ler.

Na Internet, ao que parece, matéria de “autor desconhecido” passa à condição de “domínio público”. Até mesmo Paulo Santana, deslavadamente, é useiro e vezeiro quando, na falta de assunto (ou de “inspiração”), em valer-se de anedotas por ele ouvidas ou copiadas integralmente daquele meio eletrônico. Imagine-se o restante dos mortais escribas!

O leitor, sobretudo o do Litoralmania, não é burro! Haverá, via de consequência, de perceber quem –na poesia, no conto, ou na crônica intimista, ou de cunho social, econômico, de indignação ante a desfaçatez da bandidagem política e até mesmo na mensagem de autoajuda – quem desse meio se vale. Mais tarde, não vale chorar o leite derramado!
Ou o espaço perdido…

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