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O mito de Gyses – Jayme José de Oliveira

O mito de Gyses - Jayme José de Oliveira
Jayme José de Oliveira

Se acreditarmos em Platão (filósofo ateniense, 427-347 a.C.), discípulo de Sócrates, que foi um dos fundadores da filosofia ocidental (463-399 a.C.), concordaremos que o mundo, além de confuso e ilusório, é violento e ganancioso por natureza.

Através do mito e Gyges, Platão afirma que o homem almeja sempre mais poder, glória, conforto, vantagens, prazeres. Apenas a lei e o temor das consequências o impede de agir desonestamente (Livro II da República).

Relata que Gyges era um pastor na região da Líbia. Após uma tempestade seguida de um tremor de terra o chão se abriu e formou uma grande cratera onde viu um homem nu, morto, com um anel de ouro. Após roubar o anel tomou lugar na Assembleia dos pastores e descobriu, por acaso, que girando o anel se tornava invisível. Repetiu a experiência para confirmar a magia. Seguro de poder agir impunemente dirigiu-se ao palácio, matou o rei e apoderou-se do trono.

Platão afirma que devido à natureza intrínseca do homem, tanto faz colocar o anel num homem justo como num homem injusto, não encontraremos ninguém com temperamento suficientemente forte para permanecer fiel à justiça e resistir à tentação de se apoderar dosbens e benefícios de outrem. Poder-se-ia ver nisso a prova de que não se é honesto por convicção, mas por constrangimento e temor das consequências. Quem permaneceria fiel à justiça no momento que tivesse à mão todos os poderes?

Caberá a Sócrates, seu mestre, demonstrar de forma magistral que a justiça é em si mesma o maior dos bens. Ao contrário de Platão, afirmou que os homens se distinguem entre uns dos outros pela sua integridade ou falta dela. Esta característica diferencia os homens probos dos crápulas. Sejam cidadãos comuns, dirigentes, pertencentes à elite ou à plebe, abastados ou carentes. Honorabilidade não se compra em farmácia.

Não apenas no Brasil membros da casta política que dirige nossos destinos utiliza o anel de Gyges para tentar a impunidade revelando sua “verdadeira natureza”. A ardilosa besta está aí, disseminada, pronta para aparecer. E pedir votos.

Sempre há pessoas que, tenham ou não as mesmas convicções e ideologias que compartilhamos, merecem o respeito devido à sua coragem e a honorabilidade ao apoiar atos meritórios e apontar desmandos, sem proteger mesmo companheiros quando erram. Cito quatro jornalistas e seus textos, em épocas diversificadas:
“O Estado está em falência financeira e de iniciativas. A culpa não é só do Sartori, que recebeu um moribundo, sem que os antecessores reconheçam a culpa do desastre. À exceção de Jair Soares, todos os governos somaram ao déficit ainda mais déficit. Governar era gastar. Ou, até, roubar.

Indago: a emergência não exigiria, ao menos, o “mea culpa” dos “ex” para sanar, ou minorar, a pobreza de ideias do atual governo”? (Flávio Tavares, Zero Hora – 07/10/17)

Recorrendo ao meu arquivo, encontrei:

Ao questionar um caminhoneiro grevista sobre a curiosa pauta da greve – que ia do valor do frete à derrubada da presidente Dilma – Humberto Trezzi, Zero Hora, 14/11/15, foi enxovalhado à direita e à esquerda.

“Esse governista conseguiu a façanha de achar um único caminhoneiro iludido, em meio a cinco mil contrários ao governo mais corrupto do território global”. (leitor antipetista)

“O Trezzi é um dos caras mais à direita de ZH, puxa-saco de milico, defensor da segurança”. (leitor de esquerda)

A nenhum deles ocorreu que, antes de ser petralha ou coxinha, Humberto Trezzi é apenas um jornalista narrando fatos.

Moisés Mendes, jornalista com viés de esquerda, em 13/11/15 abordou em Zero Hora os absurdos estipêndios pagos a “conferencistas”.

“Nunca havia pensado que uma pessoa pudesse lucrar tanto com coisas não palpáveis, como palestras. Pegando o caso da Odebrecht como pagadora, descobre-se que uma palestra pode render até R$ 300 mil, se o conferencista for o Lula, por exemplo. Nada é perecível no alto mundo das palestras. Mas há casos em que a Odebrecht chegou a conversar sobre palestras, pagou e, parece, não teve palestra nenhuma. Foi o que aconteceu, segundo o relatório da Polícia Federal, entre 2011 e 2012, por 13 meses, quando a empreiteira pagou uma quantia mensal ao Instituto Fernando Henrique Cardoso, sem qualquer compensação que possa ter sido identificada na investigação”. (sic)
Opinião do colunista: Podem ser encaixadas no mesmo contexto algumas “consultorias”. Assim como conferências e palestras são um meio de comunicação de extrema validade para que pessoas com experiência adquirida em cargos ocupados as difundam, facilitando os atuais e futuros dirigentes. Consultorias sérias, exercidas por profissionais habilitados, permitem que empresas alavanquem suas performances. Por outro lado, quando utilizadas para coonestar pagamentos de origem escusa, nada mais são que ardilosas maneiras de pagamento de propinas por lobbies já executados ou em projeto.

Quanto mais influente o “consultor”, maior o valor pago pela “consultoria”.

Luís Fernando Veríssimo é declaradamente partidário dos governos que ascenderam no primórdio do século XXI. Avesso ferrenho das manobras torpes que prejudicaram tanto essas autoridades em particular, como o país em seu todo.

Por esse motivo se indignou com a corrupção que campeava (criou os personagens “Corrupião Corrupto” e a “Velhinha de Taubaté”, incompreensivelmente desativados em 2002”). Os desmandos tiveram prosseguimento em forma avassaladora. Numa de suas colunas desabafou: “Ai que saudade… do tijolinho de banana, do meu autorama, do cinerama, do Mário Quintanae da Petrobras PRÉ-LAMA”.

O mito de Gyses - Jayme José de Oliveira

Jayme José de Oliveira

cdjaymejo@gmail.com

Cirurgião-dentista aposentado

 

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