O obscuro objeto do desejo
Parodiando o irreverente jornalista José Simão, colunista da Folha de São Paulo: “Buemba, buemba! A governadora dos bombachudos voa alto! Nos céus do Rio Grande do Sul os quero-queros foram varridos pelo AeroYeda!”
Além de arrogante, como já deu diversas provas dessa característica de seu temperamento, quando, sem a fundamental diplomacia, “bateu de frente” com aqueles que se opuseram às suas posições, a governadora Yeda Crusius parece desvelar uma nova faceta: a de megalômana.
Uma semana após a saída de Aod Cunha de Moraes Júnior, Secretário da Fazenda, tido como um dos principais nomes do governo na formatação de planos fiscais e econômicos e nas articulações políticas, com papel decisivo em importantes conquistas do governo, como o alcance do déficit zero, anunciado no final do ano passado, e na oferta de ações do Banrisul, a governadora anuncia, em meio a imagens dignas de um Buñel, o seu não mais tão obscuro objeto do desejo: a compra de um avião para viagens intercontinentais que pode ter seu custo orçado entre US$ 8 milhões e US$ 26milhões.
Está anunciada para março, por ocasião do início do ano letivo, uma paralisação do magistério ante a reivindicação de vários itens que permanecem pendentes, sobretudo no que diz respeito ao piso salarial nacional.
Os policiais, civis e militares, os servidores públicos, da administração direta e indireta, ativos, aposentados e pensionistas, que há um decênio sequer viram o aceno do legal reajuste de seus salários e proventos, haverão de rebelar-se ante tamanho descalabro. Não serão medidas de vindita aos grevistas, como o corte do cartão-ponto e os dias ausentes não-abonados, que arrefecerão os ânimos daquelas categorias tão maltratadas e vilipendiadas.
O anúncio da compra do AeroYeda foi, além de extemporâneo e infantil, de uma sutileza semelhante à investida de um elefante em loja de cristais.
Impossível fugir à pergunta que não quer calar: – Se ainda fosse o Secretário da Fazenda, sabendo das implicações funestas que a aquisição do malfadado avião, se concretizada, irá trazer, Aod Cunha avalizaria o cheque para pagamento do onirismo governamental?
Cabe, pois, a nós, contribuintes do erário municipal, cortar as asas desse faraônico passarinho.