O poder do discurso

Segundo o sempre-sabe-tudo Wikipedia, o termo “discurso” admite muitos significados. Aristóteles apontou quatro espécies de discurso: lógico, dialético, retórico e poético. Os discursos de Adolf Hitler, por exemplo, mostram o procedimento retórico orientado para a mobilização dos ouvintes. Ou seja, Hitler executava um discurso essencialmente persuasivo buscando o convencimento das massas. Mais tarde, linguistas, cientistas sociais e estudiosos da comunicação também fizeram suas contribuições acerca desta palavrinha que, lá no dicionário, é definida como “exposição de ideias, proferida em público, feita de improviso ou antecipadamente escrita com esse propósito”.

A verdade é que um discurso pode mudar o mundo, a massa, ou pelo menos, a tendência de um mercado. Exatamente o que aconteceu nesta semana: os investidores foram orquestrados por um discurso a ser proferido mesmo sem saber o que viria, mas supostamente imaginado, ora com otimismo, ora com pessimismo.

Eis que hoje o tão aguardado discurso aconteceu. Era esperado que o presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke, mostrasse algo para conter ou amenizar a dor dos investidores dos últimos tempos. Esperava-se que Bernanke, tal qual um super-herói, ou mágico, girasse sua varinha mágica e despejasse liquidez pelos mercados, através de algum novo pacote mirabolante de estímulo à economia americana.  Mas, como alguns imaginavam, Bernanke não usou seus super poderes: não trouxe nenhuma novidade. Com isso, o mercado sentiu a pressão dos vendidos, encerrando a semana com queda.

Se alguns linguistas falam que devemos levar em consideração o contexto, o discurso do chairman foi na cidade americana de Jackson Hole! Na tradução para o bom português, “Jackson buraco”. O nome foi cunhado porque os colonizadores que ali chegaram tinham a impressão de estar entrando num buraco, dada a geografia do local. Será que Bernanke não se sente assim, num buraco? Pois bem, como vem falando a área de análise da XP, o mercado está carente. Carente de referências. Qualquer “mimo”, como um discurso por exemplo, pode fazer a diferença. E o mercado esperava por esta diferença. Ansiou a semana toda pelo momento. E Bernanke não fez o dever de casa!

O presidente do Banco Central dos Estados Unidos não anunciou nenhuma medida de estímulo monetário. Disse que o Fed está preparado para usar as ferramentas para estimular o crescimento, e que é crítico para a saúde da economia reduzir o desemprego. Bernanke afirmou que o Fed vai se encontrar por dois dias em setembro (20 e 21), em vez do planejado encontro único, para decidir quais são suas opções para garantir estímulos monetários adicionais, entre outros assuntos. “É claro que a recuperação após a crise tem sido muito menos robusta que nós esperávamos”, argumentou.  Ok, Bernanke, mas não era bem isso que os investidores esperavam!

Mais uma vez, sem referência e sem “mimo” os mercados ficaram. Talvez, na semana que vem, com uma agenda carregada de indicadores de peso, possa brilhar a luz no fim do túnel. Mas há quem viva sem discursos e referências. Como dissemos na coluna passada: “A palavra “crise”, em chinês, é escrita com 2 ideogramas: um que simboliza perigo e outro que representa oportunidade. A China sabe que crise gera oportunidade. Portanto é hora de manter a calma e, assim como os chineses, focar no outro lado da situação, o das oportunidades!”

Tamara Menezes XP Investimentos

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