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O Troféu

Quando Kleo Mechanic anunciou aos colegas sua aposentadoria, eles mal conseguiram disfarçar o sentimento de alívio. Mostraram-se, no entanto, partícipes da pressuposta alegria de quem, naquele momento, iniciava a definitiva operação “limpa gavetas”, agendando, um jantar em sua homenagem. Alguns se comprometeram, até, a dar continuidade aos almoços da seleta confraria das quartas-feiras.

Seria este o artifício do qual se serviriam para neutralizar a artilharia pesada oriunda da ferina língua do antigo colega. Agiriam, assim, conforme as regras e mandamentos ditados pelo cinismo e pela falsidade com que o próprio Kleo sempre jogara. O tempo ensinara-lhes a dançar ao som da mesma música.

Kleo, por vias imponderáveis, afirmava saber tudo de todos: a que horas chegavam na empresa, se efetivamente trabalhavam, quem estava tendo um caso com quem e nomeava os candidatos ao virtual par de cornos. Sim, Kleo tudo garantia saber: quem era competente, quem era bom caráter. “Um, talvez dois, num universo de mil!”, anunciava. Kleo jurava conhecer outros segredos: quem deixara de recolher o IPTU, quem estava inadimplente com a tesouraria do clube social e quem estava em débito com a vendedora de empadinhas.  Afinal, ele era um homem que tudo sabia.

Kleo decidira fazer na aposentadoria o que sempre sonhara: turismo ecológico. Mochilas às costas – como era um homem que se jactava de tudo saber – beijou a companheira, dizendo-lhe que iria para o Grand Canyon, no Estado americano do Arizona.
– Te cuida, minha Tietazinha – recomendou-lhe, à guisa de despedida.

– Tu também – Maria Teresa devolveu-lhe com languidez, piscando, dissimulada, para a cabeça do alce empalhado que enfeitava a lareira.

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