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Opinião: artesanato de Osório

Lá pela década de 1960 lembro dos comboios de carroças, carretas ou simplesmente de jacás ao lombo de cavalos que desciam dos morros de Osório carregados de balaios, peneiras, peças produzidas com palhas e cipós ou taquaras das nossas matas. Eram muito comuns os artesanatos feitos com bucha vegetal e por vezes alguma peça fabricada a partir de sementes, madeira, chifre, osso ou couro, além de lã, algodão ou de flores ou capins secos (como as macegas, taboas, tiririca, etc.). Lembro de matérias-primas nativas da nossa região que eram bem comuns, como a casca das raízes do imbé e a madeira do chincho (flexível à semelhança dos ramos e da madeira do vime, que também eram usados). Com o tempo, tornou-se tradicional a produção do artesanato com palha de bananeira, que foi estimulado pelo município, fonte de renda para inúmeras famílias, especialmente no meio rural, na área mais a leste do município (no hoje município de Maquiné, no Morro Alto e Aguapés).

Mais recentemente, a Emater/RS desenvolveu em todo o Estado o programa denominado “Artesanato para a Geração de Renda”, iniciado em 1992. Conforme a extensionista rural Mariluce Oliveira Chagas (in Revista Extensão Rural e Desenvolvimento Sustentável, vol. 1, no. 1, dez 2004), “a referência mais antiga que se tem são as famosas tecelãs do Jaguari. Famílias com muitas mulheres que tiveram como herança o domínio da técnica da tecelagem…. “. Um trabalho de fomento foi desenvolvido em Lavras do Sul, no período de 1989 a 1992 como descreve aquela extensionista  e o resultado foi a organização associativa para a produção de fiação e tecelagem, tricô, croché e bordado, inclusive valorizando as habilidades existentes com o uso de pigmentos naturais como tingimento com flores de macela, folhas de alecrim, casca de cebola, etc.

Houve um incremento organizado no setor do artesanato no município de Osório quando, entre 1977 e 2002, período em que a meta era financiar cursos de qualificação, treinamento, gestões de mercado e garantir pelo menos 250 famílias locais com renda básica a partir do artesanato (com o uso de matérias-primas locais). Em seu livro “Construindo Osório – 150 anos”, editado pela Câmara Municipal de Osório em 2007, a historiadora Marina Raymundo da Silva registra à página 135, que houve um estímulo ao artesanato no governo do ex-prefeito Alceu Moreira da Silva: “Foi em seu governo a construção da Casa do Artesão, na Praça Antônio Stenzel Filho; a criação do Fundo Municipal de Apoio à Micro-Empresas e ao Artesanato”, o FAMIPEA, para financiar pequenos empreendimentos….. Atualmente merecem destaque as feiras (como a que aconteceu em Atlântida Sul no período de 28/12/2009 a 2/1/2010 e os Cursos de Produção de Artesanato, organizados em parceira entre o Instituto Federal, Senar, Associação dos Artesãos e outras instituições. Merece lembrança também o artesanato produzido pelos remanescentes indígenas mbya-guarani da Aldeia Sol Nascente, de Osório (josiselau@hotmail.com).

Sobre o artesanato local, Dante de Laytano, no seu livro “Arquipélogo dos Açores”, editado pela EST, 1987, já registrava que uma das heranças açorianos que contribuíram na formação da gente do Litoral Norte foi a habilidade desta etnia com as artes manuais, do que surgiu um rico artesanato regional com o aproveitamento de muitas opções de matérias-primas encontradas na  região.

Edegar da Silva (*)

(*) Jornalista e técnico agrícola

(Artigo publicado no Jornal Momento – OSÓRIO, na edição de 22 de maio de 2012)

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