Os salários dos médicos cubanos
Isto não é um fato para ser comemorado. Nossas autoridades e as classes dominantes do país, deveriam ficar ruborizadas de vergonha diante ao estado de calamidade em que chegou a nossa política de saúde e, ao invés de pedirem socorro ao mundo, deveriam direcionar os recursos que são desviados do Orçamento da Saúde para a criação de um programa nacional de melhorias gerais dos postos de Saúde, das unidades de emergência e dos pequenos hospitais do interior do pais, de norte a sul. Este programa deveria contemplar recursos para bolsas de estudos que proporcionassem a estudantes de baixa renda a custearem curso de formação em medicina, universalizando esta profissão que,hoje, é acessível, com raras exceções, a filhos de famílias abastadas.
Mas como o governo e a classe dominante não ficam ruborizados, por que não tem vergonha e como estamos diante de uma calamidade nacional não nos resta alternativa a não ser a de desejar boas vindas a este profissionais que,de outros países, virão contribuir para aliviar as angústias, o sofrimento e dor de nossos irmãos que morrem por falta de um médico que lhes alivie os males do corpo e da alma…
Especificamente com relação aos profissionais que virão de Cuba, foi noticiado que o Governo Brasileiro, para remunerar o trabalho realizado, fará pagamentos diretos ao Governo Cubano e este, repassará, individualmente, aos trabalhadores.
Chamou-me a atenção a estranha maneira de formalização desta relação, tendo em vista que, no nosso país, já estamos em estágio bastante avançado de resguardo dos direitos trabalhistas e do respeito ao trabalhador. A garantia de remuneração pelo serviço prestado é um dos postulados de nossa Consolidação das Leis Trabalhistas e de todas as Legislações Complementares que dela se originam.
É sabido que o salário de um médico, em Cuba é algo que beira ao ridículo, se comparado com os valores pagos no Brasil. É sabido , também, que os médicos Cubanos que estiverem no projeto, vão receber os salários pelos níveis praticados no Brasil. É de pensar-se, então, sem qualquer exagero, que o Governo Brasileiro acordou pagar para o Governo Cubano os valores normais e que o Governo Cubano repassaria para os seus médicos os valores praticados em Cuba. Acreditamos que algum acréscimo haverá ao valor do salário lá praticado, como prêmio pela disposição de aceitar o desafio em nome da boa relação entre os dois países e pelo amor a profissão mas, com certeza que os valores pagos aos profissionais cubanos será infinitamente menor que os destinados a médicos brasileiros ou portugueses, italianos ou espanhóis.
Isto assim posto configura-se a terceirização do trabalho Médico praticado pela República de Cuba que, remunerada pela Republica do Brasil, recebe valores contratuais compatíveis com o exercício da medicina e repassa para seus compatriotas que praticam o serviço, um valor muito menor do que o devido, embolsando a diferença.
Se isto for verdadeiro, e eu acho que é, o Governo do Brasil está rasgando a sua Constituição e a Consolidação das Leis do Trabalho, está colocando no Lixo da História a Luta secular que resultou nas garantias coletivas e individuais dos trabalhadores do Brasil.
Só podemos, então, lamentar pelos médicos cubanos que continuarão escravos mesmo fora de Cuba.