Colunistas

Pós modernidade

Recebi, dias desses, anexadas ao e-mail, várias fotos de antigos ofícios, muitos dos quais, o progresso os relegou ao esquecimento.

Pela internet, munido de um cartão de crédito e sem levantar-se da cadeira tudo se obtém, tudo se compra, desde o novelo de lã para o tricô da vovó ao bilhete aéreo para os Emirados Árabes, à Europa, dos cosméticos aos eletrodomésticos, do DVD ao mais recente lançamento literário, o saldo bancário e as faturas mensais dos débitos em conta.

Agora, o pão de semolina ou o “cacetinho”, os embutidos, a carne, os produtos hortifrutigranjeiros nossos de cada dia – ah, estes não! – há de dirigir às padarias, mercearias, açougues, fruteiras e supermercados.

Na primeira metade da década de cinquenta – calma, pessoal, eu ainda era um garotinho! – possuíamos um frigorífico doméstico. Para os menores de cinquenta, explico: este frigorífico lembrava em muito um cofre, nas dimensões de um fogão a gás. A cada dois dias, com entrega a domicílio, o geleiro nos abastecia com dois imensos tijolos de gelo para conservação dos alimentos perecíveis, refrigerantes e água. Também, entregues na porta, nas primeiras horas da manhã, as duas garrafas de leite e o pão fresquinho. O entregador do armazém, com o imenso e pesado balaio trazendo feijão, arroz, erva para o mate, a farinha, o sal, o açúcar, enfim. O verdureiro, o peixeiro, percorriam as ruas por voltas das 10 horas. O indefectível apito do afiador de facas a cada semana, em horário dos mais variados. O engradado de Pepsi Cola era entregue em nossa casa a cada quinze dias. A lavadeira todas às segundas-feiras, na boleia da carroça do marido, trazia lá do bairro da Agronomia a enorme trouxa com nossas roupas caprichosamente lavadas e passadas e a trocava por outra contendo as sujas. Não precisávamos sair da cadeira – mesmo porque não havia computadores –, bastava irmos à soleira da porta e ali estavam eles, trazendo-nos os produtos e gêneros de primeira necessidade.

Tenho ojeriza às enquetes tipo “quem é mais ciumento, o marido ou a esposa? Quem é mais inteligente, o homem ou a mulher? O político é mais ladrão ou mais corrupto? Vivia-se melhor nos anos 50 ou neste início de Século?”

Não há uma única e definitiva lógica nas respostas. Cada ser é uno. Homens e mulheres são diferentes – um não é mais do que o outro! O mesmo acontece com o Tempo. Não sou saudosista. São épocas diferentes, cada qual com suas peculiaridades.

Agora, cá entre nós, se era gostoso, de manhãzinha, abrir-se a porta e encontrar o leite e o pão fresquinho recém-saído do forno, ah, isso era!

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