Pro teu voto eles não estão se lixando

Minha primeira vivência eleitoral, descontando as eleições estudantis para monitor ou presidente de Grêmio Estudantil – palavra de honra! –, não foi no Estado Novo. Está bem, está bem! Foi, ainda, no século passado, em pleno Regime de Exceção.
Sim, eu fui da infeliz geração amordaçada.

Meus primeiros votos destinaram-se tão somente a candidatos a vereador, deputado estadual e federal. Presidente e governadores dos Estados eram escolhidos por uma Junta Militar, como “biônico” era o senador. Porto Alegre, por ser capital, era considerada área de segurança e o prefeito escolha exclusiva da então “situação”.

Não obstante, havia o clima de suspense que somente arrefecia após a contagem (manual) da última urna. Ainda que em pleno regime da Redentora, o processo eleitoral propiciava, acredito que não só para nós, calouros, a todo cidadão eleitor um clima de festa e réstia do que poderia ser algum dia a democracia.

Havia, como sempre houve nestes Quintos do Inferno – como se referia ao País a princesa Carlota Joaquina, mãe de D. Pedro, I – as mesmas fraudes, idênticas falcatruas, semelhantes desfalques no erário da coisa pública. De igual forma vigorava o desrespeito, o cinismo e a desfaçatez para com o cidadão.

Em contrapartida, ainda que, historicamente, a memória do povo brasileiro sempre fora – e o pior, permanece!!! – curta, predominavam os políticos e estadistas de caráter, éticos, honestos e incorruptíveis, como Paulo Brossard, Darcy Ribeiro, Teotônio Vilela, Ulisses Guimarães, Franco Montoro, Leonel Brizola, Mário Covas.

O processo eleitoral perdeu o glamour, sobretudo na indefinição dos resultados até o escrutínio do último voto da última urna. Os institutos de pesquisas induzem, coagem, manipulam e, em última instância, “votam” pelo incauto cidadão.

Não bastasse isso, a “desmemória” do eleitor, no momento crucial de acionar as teclas da urna eletrônica, certamente haverá de atuar em prol daqueles candidatos que, em descarada incoerência ao que preconizaram e apregoaram nesses sessenta dias de campanha, e que, após novamente ungidos ao cargo pelo seu tolo eleitorado, dirá, com o mais debochado, hipócrita e cínico dos sorrisos: “Estou me lixando pra opinião pública!”

Ainda é tempo de reverter essa infâmia, meu generoso leitor.

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