Que país é este?
O homem que pagou a conta de uma mulher desconhecida após ter achado um envelope com os referidos R$ 600,00 está desempregado, apesar de realizar alguns “bicos” como segurança. O valor, não obstante equivaler a mais de oito dias de trabalho como segurança (ele ganha R$ 70,00 a diária, quando há alguma oportunidade), o rapaz diz que nem sequer chegou a pensar em ficar com a quantia encontrada.
A honestidade de Marco Antonio, que não hesitou em “fazer a coisa certa” ao ver que uma desconhecida perdeu o valor que seria usado para pagar uma conta, tem repercutido pelo mundo.
Através do Facebook, brasileiros que moram na Espanha, Suíça, Estados Unidos e Itália estão parabenizando o segurança pela atitude honesta. A história deve ir ao ar em rede nacional nos programas da Rede Globo Mais Você e Encontro com Fátima Bernardes. Karine e Marco Antonio gravaram nesta semana a participação nos citados programas.
Chegamos a tal ponto, que um ato, que deveria ser corriqueiro, vira manchete. O Brasil está tão corrompido, tão vilipendiado, tão estuprado em seus valores de ética, moral e, sobretudo honestidade que o “mundo caiu” pasmado (o do brasileiro, por óbvio!) ao se deparar com tal notícia. A impunidade agraciada aos capo de tutti capi da bandidagem política e empresarial, ao que parece, transformou-se em cláusula pétrea na apócrifa “constituição” que eles mesmos “escreveram”. Daí o espanto dos tupis-guaranis saberem que, em seu meio, e vindo de um homem pobre e desempregado (aliás, brasileiro não é muito chegado em pobre), esse homem possa ter tido a atitude que deveria ser usual, corriqueira, frequente e ordinária em todos os nossos atos.
Por isso, causou-me espanto na ocasião em que estive em Zurique e, por portar vários objetos nas mãos, não percebi que o bloqueto contendo US$ 1.000,00 escorregara.
Como no dia seguinte viajaria para Londres, a primeira ideia que tive fora dirigir-me ao banco representante dos travellers.
O expediente recém findara. Não obstante, um de seus funcionários dispôs-se a me acompanhar e facilitar os trâmites na Delegacia de Policia para registrar o que aqui chamamos de BO (Boletim de Ocorrência).
Feito o registro, de imediato expediu-se o que, modernamente, chamamos de e-mail a todos os Postos e Delegacias, inclusive os de fronteira.
Minutos mais tarde, o agente informa que no Posto Policial, próximo ao hotel em que me encontrava hospedado, havia sido encontrado o bloqueto. O mesmo solícito bancário seguiu em meu apoio.
Na repartição, percebi que o bancário, após confirmar minha identidade e consequente titularidade travellers, discutia veementemente com o funcionário do cartório policial.
Findo todo o entrevero, dólares recuperados, o suíço me explicou: – Eu deveria pagar 10% do valor do objeto de extravio para cobrir as despesas de expediente e recompensar a senhora que encontrara o bloco junto ao meio fio da calçada. O bancário argumentou que não admitia que um cliente seu, viajante, fosse despojado de valor exorbitante. Ao fim e ao cabo, paguei 75 francos suíços (equivalente, aproximadamente, na época, a US$ 20).
Agradeci e, ao despedirmo-nos, ele me assegurou de que se nada tivesse dado certo (nesse momento, ele abriu a pasta modelo executivo que portava), ali estavam US$ 500,00. Quanto ao restante, eu deveria, após 48 horas, dirigir-me à agência do Banco Barclays, em Londres, para ser reembolsado do restante.
Por isso, meus caros, sempre me resta perguntar: – Mas que País é este?