Recursos públicos para políticos – Jayme José de Oliveira

Jayme José de Oliveira

É chocante a revelação que, finalmente veio a público, embora a conta gotas, por iniciativa de entidades da sociedade civil que acompanham o debate no Congresso sobre a necessidade de alterar o atual sistema de prestação de contas.

É chocante a revelação de que o Tribunal Superior Eleitoral recém concluiu a análise das despesas de SETE ANOS ATRÁS. Constatou-se que parte dos recursos públicos têm sido destinados a itens de luxo, festas, viagens injustificadas.

Irregularidades que tendem a ser repetidas no futuro.

E, a cada ano aumenta a pressão dos partidos por mais recursos. Para 2022 foram destinados R$ 4,9bilhões, mais que o dobro do pleito passado (R$ 2,1 bilhões). Antes da presidente Dilma: R$ 289 milhões, que foram aumentados para R$ 867,5 milhões no seu governo e, após, catapultou.

“O TSE demonstra que o presidente de um partido usou parte da verba para financiar viagens a seu reduto eleitoral, outra agremiação gastou no pagamento de advogados em causas desvinculadas da atividade partidária e um terceiro colocou recursos nas benfeitorias de um sítio”. (Zero Hora, 19/01/2022).

Não restam dúvidas, são casos paradigmáticos de desvios de recursos públicos.

Quando a sociedade denuncia corrupção e desvios sucessivos não pretende criminalizar a política, como alegam alguns partidos, mas exigir que os recursos destinados originariamente para permitir a atividade política ampla – evitando que os Partidos mais ricos sufoquem os menos abonados – e exigir que haja transparência e controle sobre o dinheiro que é na realidade oriundo dos contribuintes e destinado a movimentar a política e não ser esbanjado por políticos em atividades espúrias.

“O dinheiro só compra pessoas baratas. Gente de valor se banca sozinha”. (Rodrigo de Abreu)

Ken Follet escreveu o romance “O Crepúsculo da Aurora”, que retrata o modo de vida na Inglaterra no século X. É desta obra que retiro:

“Duas coisas o deixavam feliz: dinheiro e poder. E, na verdade, os dois eram a mesma coisa. Ele adorava ter poder sobre os outros, e o dinheiro lhe proporcionava isso. Não era capaz de imaginar uma quantidade de poder e dinheiro que estivesse acima do que poderia querer. Era bispo, mas queria ser arcebispo, e quando conseguisse isso, se esforçaria para se tornar chanceler do rei, ou quem sabe o próprio rei. E mesmo então iria querer mais poder e mais dinheiro. Mas a vida era isso, pensem: uma pessoa podia ir dormir saciada e mesmo assim acordar com fome”.(pag. 352)

Referia-se ao bispo Winstan que no romance era uma pessoa ambiciosa, sem escrúpulos e que, para satisfazer a sua cobiça instigava o joalheiro Cutbert a cunhar moedas falsas. Um crime que, se descoberto, julgado e condenado tinha como pena prevista decepar a mão ou mesmo a morte.

É um romance que retrata como era a vida na Inglaterra no ano 997 d.C. Personagens de todos os tipos de caráter, desde aqueles que se mantinham honestos, coerentes com os princípios altaneiros, justos quando encarregados a julgar atitudes dos súditos, até os mais subservientes, indignos e cruéis.                                                                                                  Quando confrontados com a descoberta de seus crimes, pessoas importantes – pela sua fortuna, posição social ou hierarquia religiosa – não se constrangiam em usar todos os artifícios para coagir quem pudesse vir a ser um obstáculo para seus desatinos, inclusive recorrendo a ameaças, corrupção no sentido mais amplo do termo, tendo sempre o cuidado de reservar parte do dinheiro ilegal para aumentar seu patrimônio.

Decorreu mais de um milênio e a situação não se modificou de maneira substancial. Para atingir seus objetivos inescrupulosos há os que não tergiversam nem se constrangem. Podem ser encontrados em todas as classes sociais, o diferencial entre uma pessoa digna e outra sem escrúpulos está no seu interior, na forma intrínseca de reagir perante, como diria a Igreja: “das condições próximas do pecado”.  E como está bem especificado no texto que reproduzo, não há limites para consumar os atos nem um teto que satisfaça os apetites insaciáveis.

Quando vários pretendentes disputam o mesmo galardão, regras inexistem, é um ”pega-pra-capar” insano, os golpes mais baixos são considerados “carícias” e geram reciprocidade.

Mantenhamos a Esperança, chegará o dia em que psicopatas e tiranetes serão defenestrados pela população nas urnas, para tanto, os “convictos”deverão ser superados em número pelos cidadãos conscientes. Confiem, chegaremos lá, para desespero desses “líderes carismáticos” que só pensam no próprio umbigo e os dos áulicos (puxa-sacos).

Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado

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