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Riacho Ipiranga (para os meus amigos Sergio e Guiomar Agra)

Eu fiz, e está publicado no meu velho  blog,- Do individual ao Coletivo-  um ensaio no qual eu levava o leitor  a imaginar  que a “ lua, no céu tão, bela, parecia uma sentinela, nos olhando aqui em baixo, mas tinha  uma magoa secreta, a de não poder descer do céu, bem quieta, e se banhar o riacho.”

Este versos foram feitos em  uma noite em que sai da faculdade de Direito da Puc e vi, no céu uma imensa lua, refletindo sua imagem no espelho noturno do riacho.

Que imagem, que  momento. Merecia um verso.

Eu não sei, agora, se a minha metáfora serviria para o momento em que o riacho vive. Passei pelo Riacho, num domingo, e vi  uma vila com mais de 10 pessoas instaladas.

A unidade habitacional que eu vi, tem sofás, colchões estendidos nos chão, cozinha, com panelas, louças e  um fogo de chão, de onde sai uma fumaça escura e triste produzida, no dizer de Firmino P. De Carvalho, por algum pau verde queimando…,

Ali, eles se alimentam, dormem, fazem sexo, se drogam e se encharcam de cachaça para assim, adormecidos  pelas drogas e pelo álcool, esquecerem das suas misérias e das suas dores.

Ali eles se amam fugazmente e se matam, em disputa por algumas moedas, por um trago de canha ou por um coxinha de galinha deixada no lixo, por  algum morador dos edificios dos arredores.

Nesta unidade eu vi um cão Dálmata, portentoso Dálmata,deitado no chão, em postura de guarda ao lado de seus donos.

Eu vi, um jovem sair do lugar onde estava sentado, na cozinha e  com uma garrafa de plástico cortada ao meio, se dirigir para a encosta do riacho,  encher a garrafa com a água de uma “vertente“  que saia por entre as pedras.

E o vi tomar a água. E o vi dar para os outros a garrafa e vi todos tomarem a água.

Meu Deus, como diria Castro Alves: “  Em que mundo, em que estrela tu te escondes… “ sim porque só Deus, se não estivesse escondido, poderia salvar estas pessoas do crime que estão cometendo consigo mesmo. Até  porque  os políticos não se preocupam em salvá-los, dando-lhes condições de terem uma vida e um trabalho dignos  que os mantenha na condição de seres humanos, tendo um teto, comida e condições mínimas que, pelo menos, não lhes levasse a beber a água contaminadas das pedras do riacho Ipiranga.

Parece até  que, para os políticos, é interessante que existam miseráveis. Se não existissem os miseráveis, para onde iriam os seus discursos mentirosos  que se repetem,no nosso pais, a cada eleição ?

Acho que diante do que vi, posso considerar a minha figura poética sobre a lua e  o riacho , ultrapassada, fora de tempo.

A lua jamais iria querer se banhar neste riacho  que um dia foi belo e hoje é uma exposição surrealista de miséria, sofrimento e dor.

Senão ultrapassada e fora do tempo, pelo menos imprópria como definição do romantismo que o  riacho Ipiranga  foi capaz de, um dia, inspirar um estudante de direito cujo curso ficou, pelo caminhos, perdido nas desilusões da vida…….!

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