No meu tempo de estudante, a sombra que pairava sobre o aluno era, no fim do ano, rodar. Para alguns, havia também o drama da segunda-época. Quem tropeçasse em uma ou mais matérias tinha que prestar novo exame, lá em fevereiro. Isso significava ficar a maior parte das férias de verão debruçado sobre os livros para não repetir o ano.

Muitos tropeçavam, e a repetência era implacável. Alguns repetiam o ano no mesmo colégio, assistindo aos colegas da turma anterior avançar. Outros desapareciam, iam reprisar os conhecimentos em outras paragens, fugindo da nódoa de repetente ou simplesmente desistiam dos estudos, ficando pelo meio do caminho.

Como era vergonhoso rodar!

Mas hoje parece que a nova visão do ensino é não deixar ninguém rodar. Penso com os meus botões: não seria uma estratégia maquiavélica de Estado para amanhar o apedeuta? Que sigam os alunos adiante com as suas deficiências, mas com diploma e sem nada compreender: “Vai, Carlos! ser gauche na vida” – faz me lembrar de Drummond.

Pois o nosso atual governador rodou na eleição recém-passada. E rodou feio, com nota muito baixa. Tropeçou no primeiro turno, ficou em segunda época, não assimilou a lição como deveria e a reprovação foi terrível. Não passou, como também não passara antes uma senhora governadora de triste e nefasta recordação.

Que caminhos o destino reserva ao atual governador depois de janeiro do ano que vem só o tempo dirá. Continuará na política como aluno perseverante, ou deixará a vida partidária? Ele vangloria-se em dizer que não é político profissional. Entretanto, desde 1968 ocupa um ou outro cargo político-partidário, seja como vereador, vice-prefeito, prefeito, ministro de estado e governador.

Concorrer a uma eleição ao Governo do Estado deve ser algo complicado. Mas penso que não basta conhecer o materialismo histórico e dialético, ou poder tecer críticas a Stalin camuflando um marxismo ultrapassado, nem tampouco escanhoar o bigode ou valer-se dos milagres da química para colorir os cabelos grisalhos da idade, que se alcançam as notas suficientes para “passar de ano”. O ar arrogante, a vaidade física, as atitudes altivas, desdenhosas e a soberba transbordante não contam pontos à nota final.

Ao contrário, nesse terreno tortuoso do político carreirista pesa de forma positiva um ar simpático, ao menos um leve traço de bondade natural, uma demonstração de simplicidade ingênua e muita paciência. Mostrar-se alegre e espontâneo é fundamental. Afinal – muitos dizem –, Getúlio venceu com o sorriso.

Há que se saber caçoar, ainda que isso indiretamente favoreça a alguma loja de materiais de construção.

Já para a Presidência da República quem buscou a reeleição, em segunda época, não rodou. Com muito esforço – na tangente, mesmo que com nota mínima, passou. Mas o que será, para mim, mais fastidioso nesses próximos quatros anos – a doer meus olhos e ouvidos – é ler e ouvir dos bajuladores a palavra “presidenta”.

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