Colunistas

Sobre Eros e Tânatos

Litoralmania – este ético, porém, jamais hermético diário eletrônico – já demonstrou claramente a que veio, haja vista o índice de acesso por parte de seus leitores e a credibilidade que granjeou, não somente com estes, sobretudo, dentre os seus anunciantes.

O que contribui para essa incontestável afirmação? O dinamismo e a imediata publicação dos fatos que fazem notícia, a seriedade, a veracidade e a imparcialidade com que sua editoria se reporta aos assuntos que fazem a notícia. Por outro lado, o respeito à livre manifestação de pensamento de seus colunistas, cada qual com seu estilo, cada qual assinando com responsabilidade o texto de sua lavra é quesito fundamental.

Coerente com o perfil de liberdade e democracia, Litoralmania estende, ainda, a cada leitor o direito de escrever o seu comentário. Oportuniza, com esse canal, o que há de mais democrático em qualquer veículo de comunicação: a interação com o seu consumidor final, in casu, o leitor.

Particularmente, isso muito me apraz. Átila, o Huno, dizia, Não desejo que me amem. Exijo que me temam. Por minha vez, afirmo: Não me abala a crítica discordante ou os elogios, o que me importa é ser lido, o que me leva a persistir na empreitada. No entanto, reitero, acolho de bom grado tão somente o contraponto à dialética que o texto em si carrega, bem como à opinião manifestada por cada leitor, de forma democrática e respeitosa, como muitos o vem fazendo. Nesse patamar, lembro o contraponto dos Defensores Públicos Fábio Luis Mariani de Souza e Cristiano Vieira Heerdt à minha crônica “Vetar era preciso”, publicada em 30/08/2007, como exemplos de finesse, de elegância, sem quaisquer injúrias pessoais ao próprio texto, ao articulista e aos leitores que eventualmente se manifestaram a ele favoráveis.

Entretanto, tem-se notado, há uma significativa exacerbação no usufruto do direito da livre manifestação do pensamento, não às ideias e opiniões que ali são expostas – o que é o precípuo objetivo – mas de cunho intrapessoal, da forma mais rasteira e chula, à sombra, como alguns, de pseudônimos ou de ausência de endereço do correio eletrônico.

Ante a excessiva agressão, raiva, mágoa e ressentimento verificados, busquei, na obra do eterno Mestre, Sigismund Freud, entender o leitmotiv de tão intensa bílis em que se transfiguram as manifestações de alguns poucos dos meus leitores.

O assunto é complexo; a obra de Freud, secundada por especialistas mais contemporâneos, é extensa. Sobre uma mesma temática Freud detém inúmeras publicações. Restringi-me à leitura de Além do Princípio do Prazer, onde o Pai da Psicanálise preleciona que “O termo agressividade é reconhecido como inato ao ser humano. A agressividade representa uma forma de proteção contra ameaças externas. A agressividade é uma condição da fisiologia humana, que necessita de um estímulo ambiental para ocorrer”.

Freud ainda afirma que “todo organismo vivo é constituído por um conjunto pulsional, composto pela pulsão de vida (eros) e pela pulsão de morte (tânatos).” A pulsão de vida diz respeito ao amor, ao afeto, à libido e às atitudes construtivas ou altruísticas, e tende não somente a preservar a vida como também a reproduzir outras. Já a pulsão de morte, ou destrutiva, atuante em todo ser vivo, luta para destruí-lo. Nenhuma dessas duas pulsões é mais essencial do que a outra, uma vez que elas estão entrelaçadas, mas seria possível dissociá-las e suas manifestações serem contrárias entre si bem como haver uma fusão para alcançar um objetivo.

No ser humano, a pulsão agressiva coloca-se em oposição aos objetivos mais elevados da civilização e ocasiona conflito entre as pessoas. A prevalência da pulsão agressiva sobre o processo de civilização resultará numa inclinação para a agressão, que poderá ser evidenciada no comportamento de pessoas com tal disposição. Para que isso ocorra, a pessoa não precisa estar acometida de alguma patologia psicológica específica. A agressão aparece como um fator que perturba os relacionamentos.

O agente inibitório primário da agressão  é o superego, sendo este desenvolvido no processo de interação ambiental da criança com a família. Algumas crianças se desenvolvem de maneira a tornarem-se incapazes de controlar sua agressão quando adultas e a agir de acordo com seu próprio impulso hostil. Nesses adultos, a agressão ou é reprimida e voltada para o próprio ego ou é  deserdada e atribuída aos outros, sendo expressa sob formas explosivas e infantis, o que os impede de integrarem suas agressões de modo positivo.

A partir desta leitura podemos, ao menos, entender o porquê de tamanha frustração, raiva e despeito no conteúdo de manifestações bem próximas a nós mesmos. Ou seja, no bom português: neuroses infantis mal resolvidas.

Agora, ainda que virtualmente, nem por isso essas manifestações se justificam. Sobretudo contra quem, civilizada e democraticamente, expõe seu pensamento.

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