Variedades

Atletas paraolímpicos pedem mais investimento no esporte

Menos discriminação e mais investimento no esporte. Foi o que pediram ontem (19) os atletas paraolímpicos brasileiros ao desembarcar no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo. A delegação do Brasil trouxe na bagagem 47 medalhas – entre elas, 16 de ouro – conquistadas nas Paraolimpíadas de Pequim.

“Acho que a gente cansa de mostrar que somos um produto altamente vendável. A gente torce para que isso, no futuro, melhore. A gente busca isso e acredita nisso”, disse à Agência Brasil o nadador André Brasil, que conquistou cinco medalhas em Pequim, entre elas, quatro de ouro. André, Daniel Dias (nove medalhas na natação), Terezinha Guilhermina (três medalhas no atletismo) e Lucas Prado (três medalhas no atletismo) foram apelidados de “os quatro fantásticos” pelo Comitê Paraolímpico Brasileiro.

Para o secretário-geral do comitê brasileiro, Andrew Parsons, ainda falta investimento privado para o Brasil se tornar uma grande potência paraolímpica. “Hoje, o investimento no esporte paraolímpico ainda é feito por meio do Comitê Paraolímpico Brasileiro e acredito que falte maior envolvimento da iniciativa privada, principalmente no que diz respeito às federações e clubes. Ou seja, se a elite do esporte paraolímpico brasileiro tem uma estrutura razoável, ainda falta muito para a gente se equiparar às grandes potências”, afirmou.A ausência de mais patrocinadores no esporte também foi criticada pelo atleta Lucas Prado, ganhador de três medalhas de ouro nos 100m, 200m e 400m. “Estou com uma meta ambiciosa de correr abaixo dos 11 segundos. Para isso, o atleta tem que ter apoio e uma estrutura forte por trás dele porque senão não agüenta. São lesões, suplementações caras e isso é difícil para o atleta bancar sozinho”, reclamou.

Prado também lamentou a ausência de centros de treinamento específicos no Brasil para a prática do esporte. “Hoje, o Brasil não tem um centro de treinamento como outros países. O certo seria ter um em cada cidade, em cada estado. Mas isso é muito difícil, é um investimento muito caro. Mas quem sabe não apareçam grandes empresas que apóiem os movimentos olímpico e paraolímpico juntos?.”

Logo após desembarcar em Guarulhos, Prado afirmou ainda existir muito preconceito no Brasil contra pessoas que são portadoras de algum tipo de deficiência.  “Muitas pessoas acham que, por alguém ser cego, podem pegar “a doença” dele. Isso eu já ouvi muitas vezes”, disse. Segundo ele, os atletas estão conseguindo mudar essa situação e vencer, aos poucos, a discriminação.

“Muitas pessoas acham que deficiente é aquele coitadinho que não é capaz de correr. Mas estamos mudando isso de pouquinho em pouquinho e conseguindo nosso espaço”, afirmou.

O nadador Daniel Dias acredita que a campanha brasileira nas Paraolimpíadas pode impulsionar a prática de esporte no país. “A gente espera que, com esses resultados, várias pessoas e deficientes que ficam escondidos em casa saíam para praticar esportes. Nós, deficientes, somos como qualquer outra pessoa. Temos nossas limitações, mas somos atletas.”

Segundo Dias, a prática de esporte por pessoas portadoras de alguma deficiência também é um fator importante para aumentar a auto-estima. “O esporte vai ajudar muito. Vai ajudar na auto-estima do deficiente. Antes de praticar eu pensava: 'Por que fui nascer assim?' Mas fui para minha primeira competição e olhei a minha deficiência e vi que não era nada perto de muitas. Realmente é fantástico estar nesse meio paraolímpico. Você vê a superação de muitas pessoas”.

Comentários

Comentários