Desagravo de mim – Sergio Agra

Sergio Agra

DESAGRAVO DE MIM

Com o pensamento na Turma JP

Minha “Corregedora Geral das Relações Pessoais”, sim, ela mesma, a querida, próxima e sempiternaGuio, tornou a afirmar que eu afronto, magoo, ofendo até mesmo meus primeiros e inabaláveis amigos a ponto de correr o risco de perdê-los. Nisso ela faz alusão à maneira com que manifesto minhas opiniões, orientações,abstrações, conceitos e ideias acerca da atual política governamental brasileira, sem respeitar as opiniões, orientações, abstrações,conceitos e ideias acerca da política governamental brasileira daqueles antigos amigos nas mensagens ou nos textos de minha lavra e que a eles envio.

Não, eu não os ofendo, não os afronto, por dolo eventual ou culpa consciente, menos ainda em se tratando de amigos de mais de seis décadas! Jamais, em momento algum, foi pretensão minha o insulto! Pode, sim,minhas manifestações serem o fruto de meu ácido senso de humor, de minha habilidade— ou NÃO! — ao apontar e ao criticar de situações que do meu ponto de vista sejam bizarras e capazes de fazer com que os outros que de igual ótica não as entendem se melindrem.

No exercício das minhas indeléveis remembranças eu vejo a todos eles e a mim próprio como moleques a bater bola nas calçadas ouespargindo o Lancaster ou o Rastro masculinos, o Alma de Flores ou o Fleur de Rocaille femininos sob o lóbulo das orelhas e nos pulsos, estreando calças e camisas compradas na Jim’s da Galeria Malcon ou o vestido ‘tubinho’ na Lenart’s do Bonfim, lépidos e faceiros para as reuniões dançantes dos sábados.

Opinar não é ofensa. Criticar não é raiva. São opiniões, orientações, abstrações,conceitos e ideias. Às vezes são estúpidos. Cada qual que os julgue. E ninguém está ileso de cometer uma estupidez.

O “puxão de orelha” de minha ‘Corregedora’ foi decorrente de que meu senso crítico está desmensurado e desgovernado, pondo em risco, reitero, meus dias futuros sem o abraço, o acolhimento, o bem-querer e o riso de cada um de meus antigos afetos.

Se o Brasil permanece “deitado eternamente em berço esplêndido”, eu, distante de ser um orgulhoso que só olha para o próprio umbigo ou preguiçoso Macunaíma, desperto e sacramento meu desagravo (meu desiderato é o de que não haja contra ele agravo de instrumento).

Retornemos ao abraço, ao acolhimento, ao bem-querer,ao riso ea cada reminiscência dos tempos em que aos sábados nos perfumávamos, vestíamos nossas roupas de festas e dançávamos de rostos coladinhos ao som de ‘Al Di La’, ‘Io Che Amo Solo Te’, ‘Notte Di Luna Calante’, ‘Que C’est Triste Venise’, ‘La Vie En Rose’ nas vozes de Emilio Pericolli, Peppinodi Capri, Sergio Endrigo, Charles Aznavour, MireilleMathieu vindas dos alto-falantes das vetustas eletrolas…

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