Epilepsia na Escola – Dr. Sander Fridman

Professores no caminho da escola conversam entre si:

– E o que foi aquilo que aconteceu com o Joãozinho na tua sala de aula?

Epilepsia na Escola - Dr. Sander Fridman– Colega! O menino soltou um grito no meio da aula, e pareceu que se jogou no chão entre as carteiras, se sacudindo todo!

– Mas isso já tinha acontecido antes?

– Parece que sim, mas só em casa! Na hora até achei que fosse uma brincadeira de mau gosto! Sabe como é o Joãozinho… Mas depois notei que ele não respondia nem obedecia para se levantar! Foi quando a Giuliana disse que aquilo era uma convulsão, que um priminho dela também sofria disso.

– E ele se machucou muito?

– Nada! A Giuliana, com os 8 aninhos dela, sabia tudo o que tinha de fazer. E foi tomando a iniciativa! Afastou as crianças, as carteiras, e assim protegeu o Joãozinho para ele não se machucar, batendo sem querer em qualquer coisa ao redor!

– Que amor, a Giuliana!

– Ela ainda fez um travesseirinho com um casaquinho de moleton, e colocou debaixo da cabeça dele. E até colocou ele de lado, e foi logo explicando: – “é prá ele não se engasgar com a baba e fazer ela escorrer para fora da boca!”

– Uma mocinha, a Giuliana! Que orgulho de menina!

– Uma coleguinha queria puxar a língua do Joãozinho para fora durante a crise, prá ele não sufocar. Mas a Giuliana, muito atenta, não deixou, dizendo: “- Não pode, Mariana! Nas crises as pessoas, às vezes, fecham a boca com muita força, e, sem se darem conta, podem cortar um pedaço da língua, se ela estiver para fora, ou até o dedo de quem pôs ele dentro da boca na crise!”

– Quem diria! Essa menininha vale ouro!

– A Giuliana disse que gosta muito de seu priminho, e que apesar do tratamento, ele ainda tem muitas crises! Todos em casa sabem direitinho o que fazer para protegê-lo nas crises, pois ele sempre vai visita-la!

– Mas vocês também chamaram o SAMU, no 192, não é?

– O Pedrinho, que é vizinho de casa, disse o Joãozinho que tinha crises de vez em quando há muito tempo. E como a crise durou bem menos de 5 minutos, ele não se machucou e ainda acordou bem, do SAMU disseram que não precisava, que era preciso só avisar a família e mandar ele de volta ao médico para revisar o tratamento. Que ele poderia ficar um pouco grogue, sonolento por alguns minutos, e que depois estaria tudo bem!

– Quer dizer que a Giuliana ensinou para todos como se deve reagir a uma convulsão? Seria muito legal convidarmos a família dela para falar sobre a experiência deles com as convulsões do sobrinho, e quem sabe também um médico para tirar dúvidas e tranquilizar a todos!

– Colega, essa é uma ideia ótima! Todos temos o dever de nos prepararmos para ajudar as pessoas que podem precisar de nós assim de repente, até chegar um atendimento de emergência, não é mesmo?

Mas não esqueça, sempre chame o SAMU (192) ou leve imediatamente a um hospital, nos casos de convulsões:

1) em quem nunca teve antes ou já fazia muito tempo que não tinha;

2) em quem tem diabetes ou doença nos rins, coração, etc;

3) Dura mais de 5 minutos;

4) Que se repetem depois de melhorar;

5) Em que se machuca muito;

6) Com dificuldades para respirar.

E na crise, enquanto não chega auxílio especializado:

1) Livre o espaço ao redor do paciente para não se acidentar;

2) Ponha ele de lado para não sufocar com a saliva, deixando a saliva escorrer para fora da boca;

3) Se possível, e com muito cuidado, ponha um paninho enrolado entre os dentes, para facilitar a eliminação da saliva, proteger a respiração, e evitar mordidas traumáticas.

4) Proteja a cabeça ou membros para que não se machuque no chão, usando almofadas improvisadas, se possível;

5) Avise um familiar – lembre-se, o paciente não lembrará do que ocorreu.

6) Um vídeo da convulsão, compartilhado apenas com o responsável, com o atendimento de urgência, e/ou com seu médico, pode ajudar no diagnóstico e no tratamento do problema. Apague imediatamente após transmitir a quem de direito. Divulgá-lo é ilegal e danoso.

O paciente que tem crises deve manter um acompanhamento estreito com o médico de sua confiança com o objetivo de manter controladas ou diminuir a frequência e a gravidade das crises.

*Dr. Sander Fridman atende Psiquiatria e Neuropsiquiatria, Psiquiatria Forense e Psicanálise Cognitivista. É Doutor pela UFRJ, pelo Laboratório de Mapeamento Cerebral e Integração Sensório-Motora do IPUB.

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