Lobo não “devora” lobo
Os ditos populares trazem em si a sabedoria das pessoas simples, colhida no dia-a-dia de labuta, de dificuldades e da observação do gênero humano. Algumas vezes irônicos, outras profundos e outras até perspicazes; os ditados populares, embora populares, algumas vezes requerem um profundo tirocínio e grande poder de interpretação para serem perfeitamente compreendidos.
Na política tupiniquim, no entanto, essas dificuldades de compreensão não se fazem presentes. O que mais se ouve, sobretudo nesses tempestuosos dias de fraudes, corrupção, barganha, em que a desmoralização chegou à mais sagrada das instituições, o STJ, transformando-o em picadeiro de cirquinho mambembe ante a lavação de “roupa suja” entre dois de seus ministros, é que “lobo não devora lobo”, e fica tudo por isso mesmo, o dito por jamais dito.
As siglas partidárias se proliferam do Oiapoque ao Chuí. São mais de trinta com efetiva representatividade, excetuando-se aquelas em processo de legalização ou sequer sem registro. O resultado disso tudo, eleitos o presidente, os governadores e os prefeitos, é a distribuição desregrada, o loteamento – jamais pacíficos e de bom senso – dos cargos.
Em nome da fidelidade partidária (para mim, hoje em dia, essa fidelidade só se vê em equipamento de som) o governante, coagido, nomeia para os mais altos escalões companheiros, ainda que de seu próprio partido, que desejaria ver o mais distante de si.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi irredutível ao defenestrar, ainda no primeiro mandato, sua eminência parda, o Chefe da Casa Civil José Dirceu, em razão do envolvimento deste no episódio do “Mensalão”. Lula, no entanto, saiu desse e de tantos outros episódios malcheirosos, que ainda recheiam e ameaçam a estabilidade do seu governo, devidamente fortalecido. Ele detém o respaldo popular, além, é claro, do apoio das correntes do PT que se opuseram, à época, aos desmandos de Dirceu.
Como se veriam os prefeitos ou mesmo os governadores em situações similares? Teriam a independência e a incolumidade com que se saiu Lula ao “despachar” José Dirceu? Quantos apadrinhados pelo “cacique” do seu próprio partido, esses governantes têm de “engolir”? Indivíduos que, em alguns casos, pouco tempo antes das eleições “descem de paraquedas” em comunidades que, até então, apenas “conheciam de nome” e, de imediato, se vêem ungidos com as benesses e frutos decorrentes que o cargo sutilmente lhes outorgou.
Se o governante “bater de frente” com o cacique estará fatalmente jogando o seu nome e a carreira na fogueira, sobretudo se, eventualmente, a persona non grata conhecer os segredos inexpugnáveis do cacique.
É por isso que “lobo não devora lobo”.