Mamma Mia Dom Corleone

Antes de mais nada, prometo não usar mais nenhum termo italiano clichê neste texto, nem arranhar um italiano brega bem ao estilo novela da Globo, já esgotei minha cota no título. Enfim, muita gente considera o Poderoso Chefão um dos melhores  filmes de todos os tempos. Neste filme, o tal Dom Corleone citado acima, é o chefe de uma família italiana de mafiosos de Nova York. Bem ao estio clássico de pai italiano, ele costuma apadrinhar várias pessoas, através de favores, em troca de outros favores futuros. Acontece que esse “distinto pai de família” acaba sofrendo perseguições, por não ajudar na entrada de drogas na cidade. Obviamente, que Dom Corleone, como bom mafioso italiano não é nenhum mocinho bonzinho. No entanto, ainda assim assistindo ao filme você acaba torcendo por essa excêntrica figura.

Não é só no Poderoso chefão que alguns vilões ou anti-heróis acabam sendo queridos por nós. Por algum motivo acabamos nos afeiçoando ou simpatizando com certas figuras carismáticas, ou ainda caricatas que surgem, não só na ficção como na vida real. Essa semana o Dom Corleone de nosso tempo foi destaque no cenário internacional, inclusive sendo o centro do noticiário econômico. Estou falando dele, Sílvio Berlusconi! Não quero aqui fazer uma crítica, ou mesmo chamá-lo de mafioso, apenas fiz uma conexão com esse personagem emblemático chamado Dom Corleone.

Acredito que Berlusconi seja muito mais um bon vivan do que de fato um mafioso. Berlusconi, segundo a revista Forbes é na verdade o homem mais rico da Itália, um empresário bem sucedido, oriundo de uma família de classe média-baixa. Ele tem o controle dos meios de comunicação, é dono de banco, empresas de entretenimento, o todo poderoso Milan e vinha sendo até então o principal nome da política italiana. Se por um lado é criticado e odiado por muitos, também podemos dizer que é amado por outros tantos, pois não é a toa que, mesmo tendo sido acusado diversas vezes de corrupção e até ligação com a máfia, ele esteve quase sempre no poder desde 1994.

Dizem que cada povo tem o governante que merece. Não sei se é verdade, mas a julgar pela recorrência que Berlusconi se manteve no poder me arrisco dizer que os italianos, no mínimo, têm alguma admiração por ele. Não é para menos, Berlusconi é daqueles sujeitos polêmicos que você ama ou odeia. Dono de declarações e atitudes polêmicas, sua fama de garanhão italiano correu o mundo após o envolvimento com modelos, festas e orgias particulares, além de falar certas pérolas como: “meninas procurem maridos ricos como eu” ou “gostar de belas garotas é melhor do que ser gay”.

E por que estou falando de Berlusconi? Porque o reinado do “babo” italiano parece ter chegado ao fim. O motivo? Algo muito maior do que festinhas ou escândalos produzidos por jornais, algo muito mais sério entrou em cena: a situação da dívida da Itália. Mais uma vez o mercado financeiro mundial esteve com holofotes voltados para situação de dívida de um país europeu. Mas dessa vez, como se diz por aí, o “buraco é mais embaixo”! Trata-se de um país que possui grande relevância para o cenário econômico europeu.

Na verdade, o principal receio do mercado reside no fato de que a Itália possui um montante de dívida elevado vencendo no curto prazo (entenda-se próximos 12 meses). Dado que o país enfrenta sérias dificuldades para fomentar crescimento e que possui elevados déficits fiscais (governo gasta mais do que arrecada) o mercado começa a questionar a capacidade de pagamento dos italianos. Esse movimento faz com que os credores exijam taxas de juros mais elevadas para continuar a financiar a dívida italiana, pos isso vimos essa semana os yields dos títulos italianos terem forte alta. Para se ter ideia, isso quer dizer que atualmente é mais fácil para o Brasil refinanciar sua dívida do que os italianos. O problema nisso tudo é que quanto mais caro for a rolagem de dívida, maior serão as despesas com juros que é justamente o que não cabe no atual orçamento italiano. É como se você tivesse de recorrer ao cheque especial para pagar suas contas num momento de taxas mais altas. Como sair desse círculo vicioso? Aparentemetnte simples, “só” cortar gastos. Mas isso não é tão simples quanto parece, dado que existe um cenário político, existem benefícios adquiridos por cidadãos, indústrias que só sobrevivem com incentivos tributários, etc. É duro queimar gordura, mas nesse momento é o que resta fazer, ou seja, implementar medidas de controle de gastos e eventualmente aumento de impostos para as contas fecharem.

Com esses receios em voga os mercados oscilaram entre o território positivo e negativo ao longo da semana. No final das contas, nosso Ibovespa encerrou com leve. Isso mostra que mesmo com ações bastante baratas, o mercado segue com algumas indefinições e incertezas dado o cenário macro desafiador.

Tamara Menezes

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