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Mudança nas regras do Festival de Cinema de Brasília

As mudanças nas regras da 44ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro vêm provocando protestos de cineastas da cidade. Os produtores locais temem que o espaço do Festival de Brasília, tradicional centro de debates estéticos e janela de exibição de produções mais baratas, seja dominado por filmes mais comerciais e com um custo mais alto.

Em protesto, o diretor Adirley Queirós, um dos fundadores do Coletivo de Cinema de Ceilândia (Ceicine) retirou seu longa-metragem, A Cidade É uma Só?, da programação do festival. O filme integrava a competição pelo Troféu Câmara Legislativa do Distrito Federal e a mostra paralela Primeiros Filmes.

Em carta enviada à organização do evento, Adirley Queirós contesta as mudanças que, em sua opinião, podem restringir a participação de produções menores com uma temática mais local.

“Fazemos filmes não só para serem feitos. Fazemos filmes buscando outra  perspectiva estética e política, não partidária, e sim política. Fazemos filmes para que eles sejam, no mínimo, um pequeno  reflexo da nossa condição cultural, social e econômica. Fazemos filmes do local onde estamos, do nosso local de fala. Ir contra esses princípios mínimos seria uma incoerência. Exibir o filme neste festival, neste momento que se configura, seria legitimar posturas arrogantes, autoritárias e, acima de tudo, reacionárias”, diz a carta.

“Aquilo que o festival está chamando de avanços, julgo reacionários: deslegitimar a classe cinematográfica local; desconsiderar o nosso processo histórico por salas de cinema em Ceilândia (falo aqui pela Ceicine); fechar as portas do festival a um outro tipo de cinema que cada dia é mais vigoroso no Brasil e no mundo; transformar o festival em um pastiche, em um moribundo com cara de qualquer coisa. Isso são avanços?”, questiona Adirley Queirós.

As mudanças foram anunciadas pela Secretaria de Cultura do Distrito Federal há cerca de quatro meses. Entre as mudanças, a não exigência do ineditismo das produções e também a antecipação da data do evento, que antes, era o último do calendário de festivais do Brasil. Além disso, a secretaria aumentou o valor da premiação de R$ 80 mil para R$ 250 mil, destinado ao melhor longa-metragem. O valor equivale ao que é pago pelo Festival de Paulínia, no interior de São Paulo, um dos maiores do país.

As exibições da mostra competitiva foram descentralizadas. Antes, os filmes só eram exibidos no Cine Brasília e nesta edição, também há programação em Ceilândia, Sobradinho, no Guará e em Taguatinga.

Outra crítica ao festival é a falta de diálogo com os grupos que fazem cinema em Brasília há mais de dez anos. Na opinião de Wellington Abreu, ator responsável por ministrar a oficina de teatro do festival, em Ceilândia, a escolha do Sesc da cidade como local para exibição dos filmes não leva em consideração a falta de costume dos moradores do bairro em frequentar o espaço.

“Não há esse hábito. A população de Ceilândia não tem o costume de ir até o Sesc para assistir a filmes. Seria mais acessível e mais barato se a organização contemplasse um projeto que já desenvolvemos há bastante tempo aqui, que é o Cinema na Placa”, destacou Abreu.

O ator, no entanto, reconhece que a medida de acabar com o ineditismo pode ser positiva e fazer com que as produções locais também ganhem visibilidade em outros estados. “Com isso, nós vamos poder andar o Brasil inteiro com o filme e depois inscrevê-lo no Festival de Brasília. Isso é bom”, destacou.

 

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