A especialidade em neuropsiquiatria não é normatizada no Brasil, e a capacitação na área é muito pessoal.
Como exemplo relato aqui nosso percurso. Atuamos durante 8 anos como psiquiatra consultor no Serviço de Neurologia e Neurocirurgia Dr. Mário Coutinho, que abrangia atividades no Hospitais Beneficência Portuguesa, Moinhos de Vento e Divina Providência, atendendo pacientes neurológicos e neurocirúrgicos, que manifestavam alterações comportamentais, emocionais ou intelectuais que poderiam ter causa psiquiátrica, mas também neurológica, metabólica, infecciosa, respiratória, tóxica, ou outra, e era nosso papel distinguir a causa e orientar seu tratamento.
Além disso, dificuldades que pareciam neurológicas ou físicas, nada se encontrando na investigação, eram por nós examinadas por possível causa emocional,
única ou associada (por exemplo, as doenças conversivas e as simulações patológicas). Outras especialidades, médicas e cirúrgicas – pré e pós-operatório, UTI, hemodiálise, etc – também requeriam de nós comumente elucidação e apoio terapêutico quando coexistiam problemas físicos e emocionais.
Orientávamos também médicos residentes em neurologia e neurocirurgia na compreensão de seus casos; treinamos alunos de 3 diferentes cursos de psicologia na psicopatologia de orgânicos. Fizemos uma PG de Neuropsicologia por 18 meses na ULBRA.
Nos EUA fomos treinados na Bateria Neuropsicológica de Hallstead-Reitan. Estudamos PG em Medicina Biomolecular e Radicais Livres, hormonologia, técnicas integrativas na prevenção e tratamento das condições neuropsiquiátricas degenerativas.
No Hospital das Clínicas da USP, fomos treinados no uso da Eletroconvulsoterapia; no Mestrado e Doutorado, no Laboratório de Mapeamento Cerebral e Integração Sensório-Motora no IPUB-UFRJ, examinávamos traçados eletroencefalográficos, mensurávamos quantitativamente seus indicadores e Potenciais Evocados, empregamos estimulação magnética transcraniana para intervir sobre áreas específicas do cérebro, e medimos seu impacto sobre a segurança na direção de veículos.
Participamos na publicação de livros, sobre neuropsicologia, demências, senescência, apresentamos contribuições em congressos de psiquiatria e de neurologia.
E complementamos nosso treinamento com a arte e a ciência da psiquiatria forense (outra subárea e superespecialização extremamente relevante para estes pacientes e seus familiares), cuja conclusão monográfica recebeu premiação nacional da ABP.
Enquanto não for padronizada, cada médico deve poder informar seu percurso até a capacitação que declara ter.
* Dr. Sander Fridman – Médico/UFRGS, Psiquiatra/ABP, Mestre e Doutor em Psiquiatria/
UFRJ, PG Neuropsicologia/ULBRA, Psiquiatra Forense/ABP-CFM
