José Alberto Santos da Silva
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Outra versão – José Alberto da Silva

Outra Versão.

Nas glamorosas redes sociais, numa versão de fatos natalinos que envolvem sentimentos e passionalidades de todas as famílias, eu falei dos preparos de Natal e de suas faceirices no meu jardim com diferentes apresentações a cada ano, atendendo ordens superiores de aprimorar-se a beleza do lugar. A outra versão, já que toda história tem no mínimo dois lados, deve ser mantida à boca pequena para evitar-se ainda maiores desavenças que adiam soluções.

Como todos sabem cada folhagem, cada vaso, cada recanto do meu modesto jardim tem um nome de mulher, homenagem a parentas e amigas. A Cheflera cresce muito, até seis metros de altura e por isso ganhou o nome de uma parenta grandalhuda. Enfeitada para o Natal, despertava curiosidade e admiração em adultos e crianças. Crescendo cada vez mais exigia de mim esforço físico e risco de despencar lá de cima contando com quase nenhuma ajuda. Meus rapazes se negavam a tal serviço como soldados desobrigados a seguirem ordens absurdas.

Pois este ano a dona da casa, onde moro atualmente, ordenou:

– Liquida com ela!

Como diria o Chico Buarque em “Olhos nos olhos” – “como sempre, obedeci” e debulhei com a portentosa deixando-a nos troncos velhos e sem cor vindos à lume, em séculos escondidos por folíolos retirados à força de serrotes e facões, o que me deu ligeiro sentimento de culpa cruelmente antiecológico.

Ocorre que a ordem dada se referiu a uma árvore que tem o nome de uma irmã da dona da casa. Tal irmã, graciosa, boa filha, boa mãe, boa esposa, faz lembrar quem já falou da fascinação das cunhadas. Tenho tantas, aliás, cada qual com irritantes predicados. Pois elas brigaram e não posso arriscar meu emprego de quase cinquenta anos. Elas brigaram e cada uma tem versões diferentes de si mesmas.

A vontade de dizer seu nome, em franca desobediência, se amortece frente ao risco que corro de perder meu caráter neutral. Afinal, por esta neutralidade de paisagem de deserto, precavido por eventual arrependimento de lado a lado, joguei luzes de orientação naqueles troncos descorados, com significação no que sempre representaram em ancestralidade para a família, mesmo escondidas por pequenas folhas/filhos, folhas/netos e bisnetos, antes de apodrecerem nas brumas da invisibilidade e uma chore pela outra.

Jose Alberto Silva

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