Pro ano nascer feliz
Pro Ano Nascer Feliz
“Eu vivo sempre no mundo da lua/
Tenho alma de artista/ sou um gênio
sonhador e romântico”.
* Lindo Balão Azul
(Guilherme Arantes)
Enfim, ultrapassamos a linha de chegada do ano de 2007. Se conseguimos cruzar aquele simbólico marco divisor vivos, incólumes, íntegros, contabilizando, ainda que por pequena margem de diferença, mais ganhos do que perdas devemos, sim, nos considerar autênticos abençoados. Se não fomos, nós próprios, vítimas da violência ensandecida dos drogaditos, da bandidagem, das balas perdidas e dos seqüestros-relâmpagos. Se não sofremos a perda de um filho, de um sobrinho tragado pelas águas do oceano, enrodilhado em cabos de pesca criminosamente colocados em área de recreação e esportes.
Se não nos valemos de meios espúrios, fazendo do próximo o nosso trampolim, a nossa escada para alcançarmos objetivos que, certamente, são tão espúrios quanto os meios utilizados e não se enquadram dentro dos princípios da ética e da moral. Se não fomos alvos da língua envenenada dos cornos desprezados e dos mal-amados, na inútil tentativa de mascarar seus recalques e frustrações. Se não fomos premiados, a poucos dias do Natal, com o bilhete azul da demissão e o fechamento definitivo das portas de uma fábrica, de uma loja comercial,enfim, dando vida e cores ao fantasma do desemprego para quase meia comunidade, podemos bradar, a quem queira ouvir: “Sou um vencedor!”.
Se aqueles a quem outorgamos o poder de conduzir os destinos desta Nação não passaram de embusteiros, fraudadores (tão ou mais bandidos quanto aqueles que nos apontam uma arma, saqueiam nossos lares, violentam nossas filhas ou mulheres). Se os banqueiros, por conta da agiotagem legalizada pelo Banco Central, com a anuência do torneiro-mecânico-em-chefe, ganharam mais dinheiro por conta do dinheiro do trabalhador, do aposentado, dos honestos, enfim, remetendo-os à condição de inadimplentes ante o saldo a descoberto ou do cheque especial no negativo. Se as decepções dessangraram nossos corações, por aquele ser a quem, incondicionalmente, nos entregamos por inteiro, despidos de todas as nossas máscaras, e que, numa dobra de esquina, sem aviso prévio, nos enviou um “tchau, você já era!”. Se isso tudo, hoje, abate e entristece muitos de vocês, caros leitores e amigos, ergam suas vozes aos céus e, em preces, agradeçam ao Divino: “Pai, isto nos é tão pouco!”.
2008 será um ano eleitoral. A arma da democracia estará em nossas mãos: o voto. Se os banqueiros nos usurpam, saldemos, primeiro, e, se preciso for, cortando na carne, todas as nossas dívidas. Isto feito retiremos, integralmente, nossos salários, proventos e aposentadorias, não deixando àqueles tubarões um centavo do nosso ganho honesto. Ao vazio deixado por quem idolatramos e nos relegou um outro há de chegar. Não será o primeiro, o terceiro, quem sabe?
Há de chegar como quem chega do nada. Nada há de dizer, nada há de perguntar. Feito posseiro irá se adonar dos nossos corações deitará em nossas camas e nos contará a sua história, os seus amores e os seus sofreres.
Mas sempre haverá quem diga que não estou certo.
“Quando nasci veio um anjo safado
O chato de um querubim
E decretou que eu tava predestinado
A ser errado assim
Já de saída a minha estrada entortou
Mas vou até o fim”*.
*(Até o Fim – Chico Buarque)