Foto: Eliana C. Izaias
Entrevistas

“Se eu fosse o Odorico Paraguaçu, eu diria que estou com a alma lavada e enxaguada”, diz o prefeito reeleito de Osório em entrevista exclusiva ao Litoralmania

Foto: Eliana C. Izaias
Foto: Eliana C. Izaias

O Litoralmania, através do jornalista Rogério Bernardes, conversou por cerca de uma hora com o prefeito reeleito de Osório, Eduardo Abrahão, em seu gabinete, nessa terça-feira (04).

Abrahão falou sobre a eleição, a situação do hospital, se poderá ser candidato a deputado, parcelamento de salários e até mesmo sobre o famoso caso das pantufas cor de rosa.

Veja abaixo na íntegra.

1 – No seu primeiro mandato qual ação ou obra que você julga ter marcado o seu governo?

Foi o Jogue Limpo. Na minha concepção eu queria que a cidade se alertasse para a própria importância de cada pessoa dentro do processo diário do município. Eu sempre digo: o governo não faz para a cidade e sim com a cidade. E quando as pessoas fazem parte deste processo, passam a discutir os programas de governo, o programa que o governo faz, neste caso o Jogue Limpo com Osório, e por isto a importância.

O programa não materializa, ele não tem uma secretaria, ele não tem um espaço físico, na verdade, o espaço físico é aqui no meu gabinete, onde a Soraia (sua esposa) coordena. Este programa na realidade é uma mudança de comportamento, onde as pessoas entenderam que todos nós somos responsáveis pela cidade. Claro que o governo é o grande responsável pelo encaminhamento do município, mas o programa serviu para que a população começasse a discutir o programa e em cima disto começar a discutir outras coisas relacionadas: saúde, meio ambiente, educação.

Tudo isto faz parte de uma ação coletiva. Por isto eu acho que a marca do governo foi “O Jogue Limpo com Osório”, inclusive tendo destaque da cidade em nível nacional, como um vereador (PMDB) de Santa Maria que esteve aqui e apresentou o projeto lá, inclusive eu, e o Renda (vice-prefeito), estivemos lá dando uma palestra, assim como em outros municípios.

2 – Você ganhou com uma diferença de mais de três mil votos. Esperava vencer com uma diferença tão grande?

Não. Eu esperava vencer. Eu tinha este sentimento. Por que a eleição é muito do que a gente ouve, do que a gente vê. Eu tinha uma sensação boa, incomparavelmente melhor do que na última eleição de 2012 (venceu por 528 votos de diferença), por que na eleição passada foi realmente difícil, eu não tinha muita clareza, era uma eleição muito polarizada, muito difícil de fazer.

Já esta, não estou dizendo que foi fácil, mas me parecia melhor de fazer, como de fato foi. Eu calculava que a gente pudesse chegar à frente com 1500 a 2000 votos, era minha previsão otimista. Eu sou muito cauteloso, até para não parecer que não respeitamos ninguém, pelo contrário…

Agora vínhamos realizando pesquisas internas como todos os partidos fazem, que sempre nos mostrava que venceríamos, mas não, não esperava ganhar com mais de três mil votos.

3 – Nos meses que antecederam a eleição, alguns pedetistas trocaram de lado e passaram a apoiar a oposição. Por conta disto, em algum momento você teve receio que pudesse perder votos?

Sinceramente, não. Pessoalmente falando, não partidariamente falando. Também vieram para nós pessoas que estavam do outro lado.

Eu sempre faço a seguinte avaliação, dependo de quem está do teu lado, ele pode ser um facilitador para ganhar a eleição ou te prejudicar e fazer com que tu percas a eleição.

As pessoas que saíram para mim não fizeram a menor falta e eu disse isto antes das eleições, claro que eu falei internamente… Alguns companheiros se preocupavam dizendo que fulano saiu, outro está saindo, para mim deixa sair. Agora, fiquei muito feliz com pessoas que vieram, como a Marli Grassi que foi uma conquista importante, a Vanda retornou (era candidata a vereadora pela oposição e não concorreu), seu Antônio das Emboabas, enfim, entre outros…

4 – A Prefeitura interviu no hospital por 180 dias. Passado este período, como o executivo irá se portar em relação à casa de saúde?

O processo do hospital será feito no final do ano, exatamente como foi feito anteriormente. De que forma foi isto, houve uma discussão com a direção temporária do hospital que nos solicitou a intervenção e também definiu o tempo da intervenção.

Iremos fazer este mesmo processo agora, para entender se nós vamos manter a interdição ou se nós vamos revogá-la. Eu particularmente penso que a gente deve manter a interdição por mais um tempo, mas isto é uma posição minha.  Evidentemente, eu irei ouvir os servidores, a direção, o corpo clínico do hospital, como foi feito da primeira vez.

5 – O secretariado de seu segundo mandato terá muitas trocas em relação ao primeiro?

Não sei. Sinceramente eu não avaliei nada ainda. Eu quero pensar com calma. Ganhamos uma eleição bem e isto é fruto de uma série de ações e todos que estão aqui tem a sua contribuição, mas evidentemente que alguns ficarão e outros não. Acho que é um processo até para oportunizar outras pessoas também a terem uma participação dentro do governo, mas vamos analisar…

O que não quer dizer que o secretário que por ventura não fique não tenha atendido as expectativas, não, todos que estão aqui, estão há quatro anos, a não ser os que saíram para concorrer, mas isto será analisado com calma, até por que tem uma nova composição na câmara de vereadores, mas certamente alguns ficam e outros não, isto é da vida política.

6 – O Deputado Ciro Simoni já sinalizou extra oficialmente que poderá não concorrer novamente em 2018. Caso isto ocorra, com mais uma vitória em Osório, seu nome surgirá naturalmente para ser o candidato do partido da região. Podemos ter Eduardo Abrahão concorrendo a deputado estadual em 2018?

Não. Eu pretendo terminar meu mandato. Eu penso que o principal nome do PDT para fins de eleição para deputado estadual, se o Ciro ou Romildo (Presidente do Grêmio Futebol Portoalegrense), e que fique bem gravado isto, não quiserem concorrer, é o Luciano Pinto, que é o Prefeito de Arroio do Sal e presidente da FAMURS.

Acho que ele seria o principal nome. O Marquinhos de Capivari do Sul também se reelegeu, o Cilon, em Xangri-Lá, também se reelegeu, enfim os prefeitos do PDT no litoral que concorreram a reeleição, venceram. Mas, eu penso que caso Ciro ou Romildo, não concorram, o principal nome é o de Luciano Pinto.

7 – Muitas prefeituras pelo país estão enfrentando grave crise financeira, muito em razão da situação econômica que vive o país. A prefeitura de Osório como se encontra? Existe possibilidade de parcelamento de salários dos servidores?

Osório não é diferente dos outros municípios, nós também estamos passando por uma situação muito difícil do ponto de vista financeiro, até por que não foi só a perda da Petrobrás, mas também pela crise que a gente acabou perdendo mais, ou não recebendo o que deveria… Todos os meses vêm menos, tu não sabes quanto vem e por mais que tu te planejes, sempre acaba tendo que priorizar algumas coisas.

Eu sempre priorizo o salário dos servidores, em detrimento de outras coisas que a gente deixa de fazer, deixa de pagar às vezes, como um fornecedor ou coisa parecida. Vou fazer esta semana uma reunião com a Fazenda para verificar a situação contábil do município, mas minha intenção pessoal e política é de não parcelar salários.

8 – Viralizou nas redes sociais uma foto sua durante a comemoração da vitória, usando pantufas. Aquele gesto serviu para lavar a alma?

(Risos) Olha, eu sou um cara que faço campanha a mais de 30 anos, esta é a minha sétima eleição. Eu, em todos os debates que já fiz, com as mais diversas pessoas, lideranças políticas do nosso município, eu nunca fiz nenhuma ofensa pessoal, nunca. É uma coisa que eu evito, é uma coisa que eu acho que não deveria existir. Nesta eu fui ofendido pessoalmente por duas pessoas que sinceramente até deixei de considerar, por que tinha certa consideração, tinha certo respeito, mas para mim, hoje, não tenho nem consideração, nem respeito, por quem tem este tipo de atitude.

9 – Um deles seria o Doutor Abdala e quem o outro?

O outro é o Deputado Alceu Moreira. Um deles em suas falas disse que iria me dar umas pantufas a partir de janeiro (caso fosse derrotado). Esta é uma atitude que eu acho interessante, acho um ato folclórico, pitoresco de uma campanha que não vejo nenhum processo ofensivo nisto, até achei graça quando me disseram que eu iria ganhar uma pantufa cor de rosa e claro como a gente ganhou a eleição, tocamos uma flautinha de leve, por que isto faz parte do processo.

Eu acho que aquilo que não ofende, aquilo que se torna pitoresco, que se torna folclórico, que as pessoas até acham graça, eu acho que até é bom que exista isto nas eleições, por que elas demonstram que apesar de tu estar numa disputa política, é uma disputa política que tu pode ter uma certa relação de convivência. É que nem futebol, tu ganha ou perde e toca flauta no teu adversário, amanhã alguém toca flauta em ti, mas sempre dentro de um limite, de civilidade, de bom relacionamento. O que ultrapassa este limite e entra na esfera pessoal eu refuto de todas as formas. Então, esta flauta que foi tocada, foi uma flauta da mesma forma que recebi, de uma forma com humor, não ofensiva, especificamente na questão das pantufas.

10 – Para você esta eleição demonstrou que o eleitor não está mais adequado ao jogo de ofensas?

Eu disse no meu último comício, no dia 29 de setembro, que foi depois que fui ofendido por estas duas pessoas, que se existe uma coisa que a população de Osório tem é maturidade política. O jovem discute política, os adolescentes discutem, até as crianças numa certa forma discutem, os adultos, os idosos, todos discutem política, independente de cor, raça, religião, opção sexual.

Osório pra mim alcançou a maturidade política, as pessoas discutem de uma forma muita clara, não é só “os contra” e os “a favor”. Os contrários reconhecem os serviços que estão sendo feitos, os favoráveis também reconhecem falhas que existem, por que elas existem em qualquer setor e não é na prefeitura que vai deixar de existir, então isto é maturidade política, quando tu enxergas a cidade como um todo e avalia-a de uma forma muito justa, muito imparcial, muito clara, independente de tu teres ou não posição política. Os ataques pessoais não fazem mais parte deste processo e os políticos de Osório, especialmente os mais jovens, os que estão começando, eu espero que eles façam esta leitura, as pessoas tem que fazer leitura das mudanças de comportamento, sejam elas na política ou em outras ações, mas aqui estou falando politicamente.

Então, a cidade de Osório que a cinquenta anos atrás era como se fosse um velho oeste, as pessoas ganhavam a eleição por ser quem mais ofendia, talvez isto fosse uma cultura daquela época e não só de Osório, mas regional, hoje ela não é mais isto, o eleitor hoje quer propostas, querem ações prepositivas, querem um debate claro e um debate do que é possível ser feito. Não adianta tu vir aqui dizer que vai resolver os problemas da cidade e transformar ela em paraíso, não existe isto.

A cidade tem que estar sempre melhorando, mas ela sempre vai ter alguma coisa para fazer, a cidade nunca vai parar de crescer, as pessoas nunca vão deixar de nascer, se não tu terias um governo excelente, o governo faria tudo e não precisaria mais ter governo.

É pra isto que existem os governos, para administrar a cidade, para encaminhar, para qualificar e fazer que ela ande pra frente. Mas tu nunca vai deixar de fazer alguma coisa. Então esta maturidade política que eu falo é no sentido de que as pessoas querem ouvir aquilo que é possível ser feito, se é viável ser feito, por que foi ou não feito.

Agora se o cara é feio ou bonito, magro ou gordo, baixo ou alto, isto não interessa para as pessoas, entendeu? O que as pessoas querem é postura política. Até porque quem administra a cidade, administra para todos e eu sempre disse isto. A eleição terminou dia 02 e no mesmo dia depois do resultado, eu já me considerava o prefeito da cidade de Osório, independente se o cara for do PDT, PMDB, enfim de qualquer outro partido, eu sou prefeito da cidade de Osório, recebo todos no meu gabinete ou em qualquer lugar que eu esteja da melhor maneira possível, jamais vou distinguir se o cara votou em mim ou não. O voto é uma opção dele e irá ser atendido da mesma forma

11 – Tu achas que a história das pantufas encerrou com qualquer chance da oposição de pelo menos tornar o pleito mais igual na votação?

Das pantufas não, mas com as palavras usadas em relação a mim, a forma ofensiva como se dirigiram a mim, uma forma muito baixa mesmo, muito leviana, uma coisa impensável, partindo de uma pessoa que tu pressupõe que tenha algum tipo de esclarecimento, algum tipo de qualificação, o que significa que titulação não dá equilíbrio emocional.

12 – Deixe um recado final.

Um agradecimento. Um agradecimento a coligação, a militância de todos os partidos, os secretários e secretárias, a coordenação da campanha, a Soraia e o Moisés (esposa e filho) que me permitem concorrer, me ajudam muito e me dão a tranquilidade; e fundamentalmente à população de Osório, todos os moradores, independente se votaram ou não em mim, para ser prefeito de uma cidade. Só quem está aqui sentado nesta cadeira para saber a satisfação que temos de ser eleito pelos nossos pares, para quem gosta de política como eu gosto é quase que indescritível a sensação de felicidade que a gente sente e nós sabemos também, que isto trás uma responsabilidade muito grande.

A diferença de votos da eleição passada para esta, ela muito mais me responsabiliza do que me tranquiliza, por que na verdade se a população se apropriou da administração, se ela aceitou, se ela reconheceu, se ela confirmou nas urnas com seis vezes mais diferença isto também faz com que tenhamos que fazer a leitura, de que a gente tenha que manter este padrão e melhorar cada vez mais, que a ideia é sempre esta, sempre olhar pra frente… Meu mais profundo agradecimento, meu mais profundo reconhecimento, a minha mais profunda gratidão a população de Osório, por não ter só me elegido em 2012, mas reeleito em 2016, e te digo uma coisa, pra mim a reeleição é sempre mais difícil que a eleição, porque a eleição é uma expectativa, as pessoas apostam em um candidato num determinado momento que é a eleição.

Na reeleição, ela é a confirmação ou não do teu governo, especialmente se tem só dois candidatos de novo. Quando tem três, quatro candidatos ela se divide um pouco e aí pulveriza uma eleição, mas quando são somente dois candidatos, ela se torna uma e eleição plebiscitária, ou tu gosta do governo ou tu não gosta do governo… Aprova o governo, ou não, e é muito bom ser aprovado especialmente com a votação que se fez. Se eu fosse o Odorico Paraguaçu, (personagem ficcional criado pelo dramaturgo Dias Gomes) eu diria que estou com a alma lavada e enxaguada pela votação, mas isto não diminui, ao contrário, aumenta a preocupação que eu tenho para que a cidade de Osório seja reconhecida como é hoje, no ponto de vista estadual e nacional, justamente pelas estruturas e qualidade de vida que ela possui.

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