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Sem a mínima vênia

Quarta-feira, dia de “Brasileirão”. Acomodo-me confortavelmente na poltrona; a taça de vinho tinto em uma mão e a generosa fatia de  gruyère na outra, aperto o botão do controle remoto e aguardo ansioso a estreia do mais novo membro do time dos “capas pretas” do Supremo Tribunal Federal, Luis Roberto Barroso.

Quis o Ministro, logo de início, mostrar a que veio: lançou um olhar blasé a seus pares, que poucas vezes vi igual, e iniciou sua pregação com uma voz empostada. Inicialmente minimizou a importância do escândalo do mensalão, colocando este e os demais chamados “crimes do colarinho branco” na mesma vala, como se o mensalão fosse um caso simples de desvio de recurso.

Não é não! É bem mais que isto! Não se trata apenas do vil metal e sim de um esquema golpista muito bem arquitetado para destruir os pilares das instituições republicanas e democráticas do país. O próprio Ministro Ayres Britto, então presidente do STF, disse com todas as letras, “é golpe para garantir a permanência no poder!”.

O novato, com uma retórica digna de um mestre sofista, endossou alguns dos mais repetidos mantras lulo-petistas: o de que os incontáveis escândalos que pipocam sem parar no país só vieram à tona devido a competência do próprio PT nas investigações.

Me engana que eu gosto!!! É muita cara de pau!

Luis Roberto Barroso também declarou: “Não existe corrupção do PT, do PSDB ou do PMDB. Existe corrupção”.

É verdade! O Ministro tem razão, TODOS os corruptos de TODOS os partidos têm de ser exemplarmente punidos. Mas este mensalão em questão é do PT! Sim, o mesmo partido que se autoproclamava “guardião da ética e da moral”. Huuum!

Barroso também aproveitou para passar uma carraspana no povo brasileiro, e mostrar  que também somos contraventores contumazes,  quase tão ruins quanto os mensaleiros, já que  nossos cachorros fazem cocô na praia, jogamos  papel de bala no chão e estacionamos o carro em local proibido.

Mas há alguns detalhes que o candidato a novo escudeiro do Lewandowski (te cuida Tóffoli) esqueceu-se de mencionar: minha multa de trânsito não demora DEZ ANOS para chegar às minhas mãos, e o cocô do meu cachorro não coloca em risco a democracia do país, ou ainda, nós pagamos por nossos delitos e não contratamos advogados, que foram Ministros de Estado, por quantias astronômicas para nos defender e, muito menos, contamos com a leniência de alguns Ministros do Supremo para protelarmos indefinidamente nossa pena.

Vamos falar sério, em que país civilizado os infames protagonistas deste monstruoso escândalo não estariam hoje cumprindo pena?

Na continuação de seu discurso Barroso afirma que é inútil punir os mensaleiros se não promovermos imediatamente uma reforma política.

Inútil Sr Ministro? Então para que estão perdendo tanto tempo com o julgamento? Absolva-os de uma vez, já que é inútil, ora bolas!

Coincidência ou não, seu discurso ajustou-se perfeitamente à agenda petista, inclusive deixou subentendido que o financiamento público de campanha é o caminho para sanar os recorrentes desvios de dinheiro público, mais uma malandragem petista que irá multiplicar por mil o “caixa dois” e garantir ao partido que está no poder a maior parte dos recursos oficiais de campanha. Mas este assunto exige um outro texto, deixemo-lo para depois.

Torço muito para que tudo não tenha passado de uma má estréia, talvez decorrente do nervosismo, e que ele se redima. Precisamos muito dele e dos demais Ministros. Afinal, são eles a nossa última esperança.

Só peço aos lulistas e afins que me poupem daquela ladainha infantilóide de que quem começou o mensalão foi o PSDB e de que roubavam muito mais no tempo do FHC, mas não ficávamos sabendo. Assemelham-se a criança que foi pega fazendo arte e diz que foi o amiguinho quem começou.

Se dependesse de mim, os responsáveis pelo “trenzalão”, mensalão, ou por qualquer outra falcatrua, independentemente de qual partido político eles pertençam, estariam, hoje, tocando na mesma banda o novo hit do momento:“ sertanejo penitenciário”.

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