Colunistas

Sobre cachorrinhos, Meninas e Meninos

Em frente a uma casa de Banho e Tosa de uma praia do litoral, foi colocado um armário na rua. Descobriu-se que uma cadelinha tinha dado cria a quatro filhotes. Relutei em ir vê-los e, quando o fiz, fui tomado de grande emoção ante  a beleza  e a fragilidade da vida.

Não consegui deixar de fazer uma comparação entre os cachorrinhos do armário e as crianças que nascem, talvez, não em armários, mas  em barracos miseráveis feitos de lata e de  pedaços de madeira e cujos pisos molhadas pelas chuvas, se transformam em camas  de panos miseráveis que servem de berços para meninos e meninas que chegam ao mundo, quais os cachorrinhos do armário, na mais completa miséria.

Para cobri-los – alguns velhos trapos e o calor dos corpos de suas mães  e de seus irmãos. Para alimentá-los – os seios que produzem leite  em cuja composição, tem um gosto de cachaça e um cheiro de “crack” ou  outra droga barata. Os cachorrinhos, com certeza  serão adotados por alguma ONG, vacinados e colocados para doação. Alguma família lhes tornará de estimação e não lhes faltarão comida e calor.

Os meninos e meninas, que me vieram a lembrança, com certeza terão a infância nutrida pelos restos de lixo. Nas noites frias  tomarão cachaça para aquecer o peito. Ninguém os adotará. Não irão a escola. Não conhecerão o “shopping” do centro da cidade. Estamparão no rosto a tristeza dos pobres. Terão a cara da miséria. Serão catadores  lixo, drogados ou ladrões.Serão os desgarrados e antes de completarem 20 anos resistirão à prisão, em algum assalto, e serão mortos pelas balas da polícia ou justiçados  em algum acerto de contas…

Acho, finalmente, que os cachorrinhos serão adotados. Já não posso dizer os mesmos das meninas e meninos miseráveis de meu país.

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