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Fora da caridade não há salvação

“Agora, estas três virtudes: a fé, a esperança e a caridade permanecem: mas, dentre elas, a mais excelente é a caridade.”
(São Paulo, 1ª Epístola aos Coríntios, Cap XIII).

 
Dentre as máximas evangélicas, certamente essa é a que mais toca profundamente, reforçando nosso intento de aprimorar a moral ou pondo ao nu nossas deficiências quanto a esse aspecto, em confronto com o espelho da consciência.

A interpretação dessa assertiva depende, como todas as coisas, do ângulo de visão que possamos abarcar em nosso estágio atual de evolução pessoal.

Para muitos, a caridade resume-se a alcançar bens materiais ou valores financeiros a pessoas ou instituições, encerrando-a com aquele gesto por si só.

Sem o intuito de desvalorizar o ato, analisemo-lo por um enfoque mais amplo.

Quem é beneficiado por um ato de caridade? Apenas aquele que a recebe?

Num primeiro momento poderemos pensar que sim, mas analisemos a questão sob a premissa das leis da Natureza que o Homem já conceituou em seu pequeno círculo de percepção: “A cada ação corresponde uma reação em igual intensidade e sentido contrário”.

Pois a caridade é uma ação que beneficia seu destinatário, e que sempre tem sua reação, rendendo ao autor um facho de luz tão intenso quanto mais pura for a intenção do ato.

A Justiça Divina nunca dá seu veredicto unilateralmente. Tudo que nela ocorre tem múltiplo encadeamento que flui em infinitas direções.
A simples caridade material já é o caminho para a iluminação. Contudo, perdurar nesse estágio de ação relega a segundo plano o desenvolvimento do potencial de amor latente em nós.

Se ainda não estamos cientes dos verdadeiros benefícios da caridade, comecemos sim pelo material, mas busquemos mais. Busquemos cobrir aquele bem material com um pouco de amor, de expectativa sublime de desejar o reconforto do necessitado, rogando a Deus para que ele possa não mais precisar daquele amparo que o faça sofrer ou humilhar-se.

Busquemos colocar o sorriso, mesmo que interior, ao alcançar a alguém um pouco do que possamos dar.

E se não podemos dar o material, temos riquezas muito maiores ao nosso dispor.

Temos nossa palavra de conforto, de estímulo. Temos a possibilidade do elogio a alguém que encontra-se com baixa auto-estima. Temos a possibilidade da análise isenta de uma situação em que possamos mostrar ao desesperado as saídas possíveis. Temos o silêncio para ouvir o desabafo, o sorriso para alegrar o triste, o abraço para socorrer a dor, a calma a receber o agitado, a confiança para guiar o confuso.
E se ainda não tenhamos como assim doar, doemos uma prece por outrem.

Essa caridade, a da doação moral, e que pode muitas vezes influir nos rumos de uma vida, é a verdadeira caridade.
Por onde começar? Que tal por nós mesmos?

Busquemos não nos punir permanentemente por erros cometidos, mas agir na reparação.

Que tal continuar em nossa família?

Já existem problemas, conflitos? Nada que resista à sincera intenção de mudar a si mesmo, e à paciência, que pode ser de uma vida toda.
O que nos deixou em suas cartas Paulo de Tarso:
“Ainda quando eu falasse todas as línguas dos homens e a língua dos próprios anjos, se eu não tiver caridade, serei como o bronze que soa e um címbalo que retine; – ainda quando tivesse o dom da profecia, que penetrasse todos os mistérios, e tivesse perfeita ciência de todas as coisas; ainda quando tivesse toda a fé possível, até ao ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, nada sou. (…)”.

O exercício da caridade é a trilha do caminho da libertação dos egoísmos que nos assaltam.

É conquista e superação, é valorização da humildade sem humilhação, benevolência sem ingenuidade.

É como no início tatear em escura caverna, sempre enxergando à frente uma luz que mais e mais se intensifica, e nos mostra sorridente que o caminho certo é este.

Ainda Paulo de Tarso:
“A caridade é paciente; é branda e benfazeja; a caridade não é invejosa; não é temerária, nem precipitada; não se enche de orgulho; nem se azeda com coisa alguma; não suspeita mal; não se rejubila com a injustiça, mas se rejubila com a verdade; tudo suporta, tudo crê, tudo espera, tudo sofre”.

Meditemos em tudo isso, e chegaremos à conclusão que a caridade é também uma questão de inteligência, pois sua prática só nos fará bem.
O esforço é nosso, o sucesso é garantido.

Nada além de nós mesmos pode atrapalhar.

Não deixemos desenvolver em nós tumores morais em função de visões equivocadas da existência, que nos cobrarão reforma com mais dor.

Sempre é tempo de começar, e recomeçar.

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